Em 2003, o coreano Chan-wook Park adaptou a manga japonesa Oldboy e foi corrido a prémios, pelo que Steven Spielberg manifestou interesse em americanizar o título, mas o guião de Mark Protosevich não o convenceu e a receptividade a Indiana Jones e o Reino da caveira de Cristal (2008) arrefeceu-lhe a vontade de arriscar. Passaram-se alguns anos de rescritas e ofertas não aceites antes de Spike Lee, sem um sucesso desde The Insider (2006), esticar o braço para o cheque, primeiro defendendo entre dentes o seu trabalho e mais tarde criticando o estúdio por não ter podido mostrar os quarenta minutos que lhe cortaram na montagem. No final, o remake amealhou apenas um quinto do que custou, o que é justo, porque vale um quinto do filme coreano e, tendo em consideração que custou trinta vezes mais, percebe-se bem a dimensão do desperdício.
Demasiado orgulhoso para o seu próprio benefício, Spike Lee ouviu a única recomendação de Chan-wook Park como um desafio e, a partir daí, parece ter-se empenhado unicamente em produzir um resultado tão diferente que, descascado de todas as complexidades que o enriqueciam, parece um genérico filme de vingança com um estilo visual inspirado na Sin City de Frank Miller e Robert Rodriguez; uma estética musculada, mas bem assente no chão, em oposição à de Chan-wook Park, que fervilhava de surrealismo como o cérebro incontrolado do protagonista. O guião apaga e altera constantemente pormenoresnarrativos em detrimento da experiência cinéfila, ao ponto de o protagonista, que era, no original, a pessoa mais estranha, pelo seu comportamento, fisionomia e penteado (o que fazia todo o sentido, porque ele era a peça que não encaixava, o desenraizado, aquele que procurava respostas com um atraso de quinze anos), aqui são os outros que têm aspecto bizarro, tanto nos tiques como na indumentária. E, se na manga o período de detenção era de dez anos e no filme de 2003 quinze, oremake sobe a parada para os vinte anos, discutivelmente para que o sexo entre dois personagens-chave não seja ilegal.
Oldboy é a história de um homem encarcerado durante duas décadas num quarto de hotel que, após libertação, procura a identidade do culpado mas, porque o visado considera a vingança uma reacção demasiado mesquinha, obriga-o a investigar as razões para o seu acto. O protagonista é agora um morenaço (apesar de não sentir na pele o sol há vinte anos) de cabelo rapado (em oposição ao icónico despenteado de Min-sik Choi), bem composto e de poucas palavras, muito sério e compenetrado, que faz uma investigação muito superficial mas a quem as respostas vão caindo no colo. Josh Brolin é o estoico anti-herói, de emoções muito contidas até ao clímax, onde é frustrante a sua débil tentativa de emocionalidade aberta, Elizabeth Olsen tem um desempenho sóbrio, mas uma personagem vazia e inconsequente (nem no clímax se pode atribuir-lhe importância, já não está ciente da sua participação), e os antagonistas Samuel L. Jackson e Sharlto Copley têm maneirismos tão teatrais que os esvaziam em consistência e realismo. A revelação final é apressada e desprovida de impacto, filmada com desinteresse e a depender exclusivamente da sensibilidade prévia do público.
É pena que Spike Lee não tenha dado o seu melhor ou que o seu melhor seja apenas isto. Há um claro contraste negativo face ao original, uma simplificação excessiva em que todos os desvios do original são para pior, migalhas de um filme muito melhor. Beligerante como sempre, Spike Lee não quis que o resultado figurasse como uma Spike Lee joint, por não se rever na criação deste mundo, mas ficou beliscado na controvérsia sobre direitos de autor dos cartazes promocionais, que o artista plástico Juan Luis Garcia afirmou não lhe terem sido pagos, mas Lee reiterou não o conhecer nem dever-lhe nada. Falta humildade ao realizador, mas também senso comum ou uma visão original.
Oldboy 2013
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