Thursday, February 14, 2019

Among The Living, de Alexandre Bustillo e Julien Maury

É impossível deixar de manifestar desilusão a cada filme da dupla Alexandre Bustillo e Julien Maury, tendo em conta a sua auspiciosa estreia, pois a carreira dos autores de No Interior (2007) acabou por parir apenas ratos de laboratório, daqueles nos quais se fazem experiências falhadas, nomeadamente Livide (20), este Entre Os Vivos (2014) e Leatherface (2017).

Depois da ausência em Livide, a antiga bomba sexual francesa Béatrice Dalle aparece fugazmente para dar o pontapé de partida à violência, num prólogo que quer compensar a ausência de gore até ao terceiro acto. Entretanto, é o último dia de aulas e três pequenos delinquentes distraem-se a fazer asneiras, nomeadamente pegar fogo ao celeiro de um vizinho de quem não gostam, mas decidem armar-se em heróis quando seguem um reboque até um abandonado estúdio de cinema e vêm uma mulher gritar na bagageira. Acabam por fugir ao primeiro sinal de perigo, mas é o suficiente para o homem que habita a cave ordenar à figura magra e de máscara de palhaço que vá matá-los. É aqui que encontram o panfleto sobre um gato perdido que um dos miúdos deixou cair.

Seguem-se dois segmentos em que uma criatura mal focada entra na casa de dois dos miúdos e os mata, juntamente com quem está com eles (na primeira situação, a babysitter, na segunda, o pai abusivo), assistindo-se, em ambos casos, a um curto jogo de gato e rato e o destino das vítimas não é filmado. Não se sabe como chegou o assassino ao conhecimento das respectivas moradas, já que o panfleto do gato era precisamente do terceiro miúdo e só teria, é bom de ver, o contacto dele. É na residência da derradeira vítima que tem lugar a sequência mais gráfica e onde o assassino se demora mais tempo, identificando-se com um albino alto, magro e sem pêlos, cujos genitais mal formados são o único traço anormal evidente. Apesar da ocasional violência, a cena não fica na memória, para além da noção de que o indivíduo é de carne e osso mas a narrativa fá-lo teleportar-se conforme a conveniência.

Entre Os Vivos é um slasher vulgar, tão mal urdido como o anterior Livide, parecendo martelar um conjunto de segmentos individuais para que simulem um todo sem coesão nem coerência. O prólogo e o epílogo tentam alargar a história de um menino que aos quatro anos tem a altura de seis e aos seis a de um adulto, que o pai esconde da vista através de uma narração onde diz que desaparecem para poder viver entre os vivos. E raptando mulheres… para que lhe sirvam de mãe? O resto é um episódio em que são descobertos pelos delinquentes que se tornam suas vítimas. Sem se criar empatia para com eles, tudo o resto se torna externo, indiferente, e a banalidade do vilão (quando está desfocado, parece saído de The Descent, mas focado é um mero skinhead) não convida ao deslumbre. No clímax, o assassino recebe um único tiro na cabeça, mas o miúdo que o mata declina disparar mais, nomeadamente sobre o pai, que também o atacou e à família (mãe, irmã e padrasto) e a criatura regressa para o epílogo, pelo que é, supõe-se, imortal. Num exemplo gritante de imbecilidade escrita: «ele só tem seis anos», é a única justificação dada pelo pai, inconsolável com o filho baleado nos braços. Mas, afinal, quem é esta dupla que vive à margem da sociedade e se esconde apenas porque o filho tem uma malformação congénita, raptando mulheres e matando testemunhas? É o que é, mas é pouco. Muito pouco. Mesmo que isto seja uma espécie de não confirmada origin story do lendário Tall Man.

Aux Yeux Des Vivants 2014 

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