Thursday, February 14, 2019

Leatherface, de Alexandre Bustillo e Julien Maury

A estreia de Alexandre Bustillo e Julien Maury, com No Interior (2007) foi auspiciosa, e do impacto desse filme chegou a oferta de um remake de Hellraiser (1987), mas, como é regra dos presentes envenenados, e com um atraso de dez anos, o que se materializou foi uma prequela de Massacre no Texas (1974). Como a franchise já está mais do que espremida, esta segunda prequela (depois de Massacre no Texas: O Início, 2006) até pediu emprestado o título do terceiro tomo, Leatherface (1990).

O oitavo filme de uma série que conta com um original e três sequelas (1986 a 1994), um remake (2003), uma prequela (2006), uma sequela directa ao original em 3D (2013) e agora este emplastro que pretende, segundo o argumentista Seth Sherwood, encabeçar uma trilogia sequencial Leatherface (2017) – Massacre no Texas (1974) - Massacre no Texas 3D (2013). Das nove franchises de terror norte-americanas, é a segunda menos rentável. A sequência descendente é a seguinte: Sexta Feira 13, Pesadelo em Elm Street, Hannibal Lecter, Halloween, Saw, Gritos, Psico,Massacre no Texas e Chucky. Por muito que o primeiro filme permaneça icónico e o remake de Marcus Nispel tenha catapultado a sua mística para o novo século, não se entende o constante fascínio por repetições pedestres do fenómeno inicial.
Alexandre Bustillo e Julien Maury atingiram o mercado norte-americano com um sequência de Os ABCs da Morte 2(2014) e o seu primeiro filme foi alvo de um remake (Inside, 2016) com realização e argumento espanhóis, mas actores norte-americanos. Este remake provou ser tão mau como o resto do currículo da dupla de realizadores/ argumentistas francesa.

Assim como Tobe Hooper e Marcus Nispel, mantém-se a tradição dos cineastas que nunca saem da sombra do seu primeiro trabalho e a franchise acéfala não ganha mais do que outro slasher sem miolos, suspense ou uma intriga digna de nota. Ao descartarem a anterior prequela da sua sequência de eventos, Bustillo e Maury desperdiçam a tábua rasa que lhes é dada e, simplesmente, não trazem nada de novo. Plagiam a Rob Zombie a juventude do antagonista num hospício (do remake de Halloween, 2007) e o grupo de alienados em fuga de Os Renegados do Diabo (2005), banalizam o poderosíssimo pontapé no passeio de American History X (1999) e o alojamento dentro de um animal de grande porte de The Revenant (2015). Desvirtuam igualmente toda a premissa do original (1974) em troca de um twistque apenas satisfaz durante alguns segundos (Leatherface, afinal, não é quem se imaginava). Se Gunnar Hansen (o actor que primeiro encarnou Leatherface) pesquisou em hospitais psiquiátricos por doentes com atraso mental incapazes de dominar a mais básica alfabetização, o novo filme limita-se a dar um tiro na boca de um inteligente descendente de uma família de violentos hillbillies sem visível inclinação para o canibalismo (excluindo, eventualmente, o canibalismo indirecto de darem humanos a comer aos porcos).

Em vez de um patriarca, a família Sawyer (Saw-yer) tem agora uma matriarca, o que, por muito que Lily Taylor esteja à altura para fornecer, também não joga com a herança do original, ainda que possa contorná-la e ir dar um hi five ao Massacre 3D, onde a protagonista herdava uma casa da avó que nunca conheceu e lá dentro vinha Leatherface como primo de bónus. Stephen Dorff é o xerife que quer vingar-se da família Sawyer por lhe terem morto a filha, Vanessa Grasse é a enfermeira naïf que nunca chega a despir-se e Jessica Madsen a paciente que sim. Sam Coleman é o engodo e Sam Strike o tristemente verdadeiro, Finn Jones continua a não ter Punho de Ferro de que orgulhar-se.

P.S. Para além dos plágios acima referidos, há ainda a referir um Sawyer que ataca com um saco na cabeça próximo (na sombra não se vê bem) daquele usado como máscara pelo Jason de Sexta Feira 13 Parte 2 (1981) e que os fugitivos do hospital, a dada altura, fogem da polícia num carro patrulha e são perseguidos por veículos idênticos (Terror na Auto-Estrada, 1986).

Leatherface 2017 

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