Se há caso a que se adequa o epíteto de que a realidade é mais estranha do que a ficção é o de um argelino de sotaque francês que, com 23 anos, em Espanha, se fez passar por um americano oito anos mais novo, desaparecido quatro anos antes, e foi acolhido pela família que interrompeu o luto, durante um período de cinco meses, antes de um detective particular descobrir, pela análise das respectivas orelhas, tratar-se de um impostor. O caso atinge proporções tão bizarras que o documentário soa a embuste e o facto de ser rodado, em grande parte, com recurso a reconstituições, ainda o torna mais confuso.
Conhecido pela Interpol (e, depois deste episódio, pelo FBI) como O Camaleão, Fréderic Bourdan narra a sua versão dos acontecimentos, no monólogo que vai conformando os eventos, ora com o seu rosto voltado para a câmara, ora através de voice over, interrompendo-se apenas para que outros intervenientes tenham a palavra, nomeadamente os membros da família de Nicholas Barclay (desaparecido de sua casa no Texas em 1994, quando tinha 13 anos), a agente do FBI que tratou da transferência, o embaixador americano em Madrid e o inconformado detective que, até hoje, procura o corpo do petiz.
A história de O Impostor é inacreditável, não só porque envolveu um adulto confundido com uma criança, mas porque a mãe e os irmãos de um menino loiro, de olhos azuis e sotaque texano acolheram um moreno de olhos castanhos, sotaque francês e aspecto mais velho, apenas porque este se identificou como tal às autoridades espanholas e justificou as mudanças visuais e de comportamento com quatro anos de cativeiro numa rede de tráfico sexual.
Mas o filme não esgota aqui o seu mistério, quando, na recta final, já a burla descoberta, lança cobro de nova suspeita, desta vez sobre a participação da família acolhedora no desaparecimento do filho, o que é igualmente plausível, porque, como dizia Sherlock Holmes, quando se elimina o impossível, o que resta, por mais improvável, é a verdade. Afinal, se não tivessem culpa no cartório, como poderiam aceitar duas pessoas tão diferentes como sendo a mesma?
O documentário de Bart Layton é eficiente na criação do ambiente de estranheza e a direcção de fotografia sabe produzir ficção, com as reconstituições a demonstrarem um cuidado com o enquadramento para a manutenção da dúvida. Nesse jogo de esconde e descobre, a certeza não se obtém no final, obrigando o cinéfilo a conduzir a sua própria investigação, incrédulo de que aquilo a que assistiu fossem, efectivamente, factos.
The Imposter 2012
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