Thursday, September 18, 2014

Silent House, de Chris Kentis e Laura Lau

Em 2010, o uruguaio Gustavo Hernández decidiu experimentar fazer uma longa-metragem com a opção de filmagem contínua de uma máquina fotográfica digital (a Canon EOS 5D Mark II). Num só take, seguiu uma jovem amedrontada durante 74 minutos, pelo interior de uma casa de campo, durante a noite, enquanto esta ia se arrepiando com ruídos, sombras e a presença de um intruso. Silent House (2011) é o seu remake norte-americano, dirigido de forma a imitar o processo do original, mas efectivamente constituído pela montagem de pedaços de dez minutos cada.
 
O casal de realizadores Chris Kentis e Laura Lau conseguiu alguma notoriedade com Open Water (Em Águas Profundas, 2003), um docudrama muito amador sobre um casal que terá permanecido 24 horas num oceano infestado de tubarões, quando o barco turístico que os conduziu lá partiu sem eles. Silent House teve um planeamento muito mais profissional, com o director de fotografia e operador de câmara Igor Martinovic a saber utilizar uma grua e a passar a mesma câmara para o ombro quando foi preciso filmar interiores, deslizar por entre os actores sem atrapalhá-los e manter um foco de luz a incidir sobre a cara de Elizabeth Olsen (Martha Marcy May Marlene, 2011) sem encandeá-la.
Apesar de calcorrear os cantos de uma casa diferente, a narrativa é praticamente igual, sem que a fugaz presença de uma personagem suplente altere o desenvolvimento, apenas americanizando o final e tornando óbvias algumas pistas que, no original, não eram mais do que insinuadas. A introdução de elementos surreais (uma menina de tutu em cima da mesa de bilhar, a ser fotografada por uma polaróide; a ser arrastada de debaixo de uma cama e a aparecer uma mancha de sangue no colchão vazio) era dispensável, ganhando La Casa Muda com o realismo que tornava as sombras mais enigmáticas. No fundo, trata-se apenas de uma casa com más memórias. Inegável a favor do remake é a intensidade da actriz (que não parece tanto estar a admirar a decoração da casa como no original) e a fartura no preenchimento do seu decote, defeito se considerarmos que pode distrair do essencial.
Silent House 2011

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