Fruto da moda crowdfunding, Black Rock é a prova de que o financiamento cego pode não andar de mãos dadas com a criatividade. Katie Aselton (The Freebie, 2010) e o marido Mark Duplass (Safety Not Guaranteed, 2012) colheram os fundos e distribuíram-nos entre si. Ela realizou e protagonizou, ele escreveu e o irmão dele produziu. Kate Bosworth e Lake Bell devem ter participado por amizade.
Assim que as duas mulheres atraentes que abrem o filme (Kate e Lake) dialogam sobre a paradisíaca ilha deserta onde vão acampar durante uns dias, a originalidade é instantaneamente lançada pela janela e o resto é um sofrível revisitar dos clichés mais básicos e sofríveis do género rape & revenge, que desde os anos 1970 grassa o celulóide mais económico. Tão económico que se fica por uns míseros 80 minutos (créditos incluídos), tempo insuficiente para desfazer a meada, pelo que o novelo é atirado em bruto ao público.
Eventualmente conscientes da qualidade anódina do resultado, a realizadora decide despir-se e a Lake Bell para uma cena de apanha-paus nocturna, mas nem a surpresa para a libido compensa a esterilidade do projecto. Ainda que não se conteste o direito a dizer não de uma mulher durante qualquer fase do avanço sexual, é indesmentível que a conduta da personagem provocatória é inconsistente ou repreensível, seduzindo um pouco interessado ex-militar de forma óbvia, grosseira e continuada, apenas para negar-se quando ele finalmente decide cooperar. A relevância deste ponto é consequentemente ignorada, quando teria sido um bom ponto de partida para, pelo menos, uma novidade: questionar até que ponto é plausível provocar um animal adormecido e rejeitar as consequências. O pouco suspense a que se assiste termina em frustração, a escassa nudez por entre os arbustos e sombras é tão gratuita como num sexploitation e a tentativa de violação em si é rápida, discreta e, se o filme fosse mudo, invisível. Kate Bosworth, aqui poupada ao frio, foi violada no remake de Straw Dogs de 2011.
Black Rock 2012
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