Thursday, September 18, 2014

Haunter, de Vincenzo Natali

Mesmo depois de misturar O Feitiço do Tempo (1986), Dark City (1997), Os Outros (2001) e Maníaco (1981) num único filme, Vincenzo Natali não consegue sair de dentro do Cubo (1997) e a sua carreira permanece em suspenso. Apesar de lidar com mistérios dignos de despertar curiosidade e trabalhar a fotografia com esmero, Natali perde-se na previsibilidade do desenvolvimento pedestre da narrativa e nenhuma das suas artimanhas funciona. Isso transforma-o numa das mais frustrantes promessas da sua geração de cineastas.
Sistemático, Natali insiste em mais um título de uma só palavra e num mistério com várias faces. Contudo, mais papista do que o Papa, acaba por tropeçar na própria esperteza e a emaranhar-se nas pontas soltas. O enigma de Haunter desenrola-se devagar e a primeira meia hora é intrigante, assistindo-se ao efeito máquina de lavar e a um fantasma impaciente, a fazer horas para recolher o seu lençol com furos para os olhos. Uma família revive o mesmo dia ad eternum, tendo apenas a filha adolescente consciência desse facto, para o qual procura respostas. Sons na canalização da casa vão conduzi-la na caça ao tesouro mas, quanto mais revelações, pior. Cada passo em direcção à solução é um passo para longe da lógica.
A descoberta de um livro de recortes leva-a à conclusão de que habita a casa de um serial killer e à necessidade de ajudar a próxima vítima, com a qual estabelece uma ligação simbiótica. Contudo, a resistência das diversas cores ao detergente é variável e é aqui que a tela esgaça. Primeiro, o número de convivas na reunião final, tendo em conta que há uma vítima por ano durante mais de meio século (o álbum começa em 1954), é desbotado, o assassino não tem um padrão metodológico (as jovens desaparecidas, as famílias inteiras que habitam a casa, o uso de monóxido de carbono não emula o método utilizado nos próprios pais) e parece saltitar entre o mundo dos vivos e dos mortos só porque sim. Ainda fazendo referência à morte dos pais, ficam por abordar todas as implicações jurídico-criminais desse acto e ainda a cronologia subsequente: o que aconteceu à criança e à casa, para que este continue a chamá-la sua?
Abigail Breslin, Peter Outerbridge e Stephen McHattie fazem o que podem, mas não podem muito contra as evidências de que Haunter é uma historinha de fantasmas superficial, onde nada foi pensado para além da rama e a direcção de fotografia acaba amputada pela escrita. A heroína acaba por ter toda a informação fornecida pela investigação da outra e, de um momento para o outro, passa de medrosa a destemida apenas porque a película está a chegar ao fim.
Haunter 2013

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