Nancy não está bem. Não é feliz. Precisa de laminar o próprio corpo para deixar a angústia sair, precisa de ser possuída com violência para que o sexo lhe dê prazer, tem necessidade de alguém que a compreenda e o marido de 15 anos ignora as suas premências e rejeita os seus avanços. A psicóloga limita-se aos lugares comuns de falta de «auto-estima» e de «sentido de si». Conhece um homem através da internet que a excita e a faz sentir-se desejada, ele é cruel e bruto como ela gosta e o que ela quer é morrer. Acordam no preço e ela compra um bilhete só de ida. Começa o filme.
Downloading Nancy tem um título curioso, a par de Decoding Annie Parker (2013), mas enganador (em Portugal, adoptou-se o adequado A Libertação de Nancy). É certo que o par sadomasoquista se conheceu através da internet, mas podia ser através de classificados do jornal e cartas de um lado para o outro, porque o que realmente interessa passa-se apenas no mundo real. Nancy desistiu de viver e aguarda o golpe de misericórdia, numa espécie de pedido de eutanásia (suicídio assistido) previsto na lei norte-americana como homicídio consentido. O guião baseia-se no caso real de Sharon Lopatka (1996), torturada e asfixiada em consequência de fantasias partilhadas online e concretizadas fatalmente.
Neste registo, trata-se de uma história perturbadora e sensível, responsabilidade que Maria Bello carrega com realismo, cruzando martírio e esperança, algo que as analepses ajudam a enfatizar. Jason Patric, como o seu carrasco, mantém a máscara de normalidade o quanto pode, o que é compreensível, pois a situação também é estranha para ele. Rufus Sewell, o marido apanhado numa casa vazia, é aquele que tem menos com o que trabalhar, limitando-se a mastigar algumas colheradas de incredulidade. Michael Nyqvist, o sueco que protagonizou a trilogia Millenium em 2009, já falava inglês em 2008. É a primeira longa-metragem de Johan Renck, sueco saído do mundo dos videoclips.
Downloading Nancy 2008
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