Virginia, 1976. Uma caixa com um botão, deixada na soleira da porta. Se o botão for premido em 24horas, a recompensa imediata é de um milhão de dólares. Alguém irá morrer na sequência desse acto, mas será um desconhecido. Em ambos casos, a caixa é recolhida no final do prazo, e entregue a terceiros, para que a experiência seja repetida. Esta é a premissa de um thriller que começa como um clássico episódio da Quinta Dimensão de Rod Serling, dá duas piscadelas de olho ao Dark City de Alex Proyas e subitamente inquina como as carreiras dos supracitados.
A referência à Quinta Dimensão não é ingénua, uma vez que a primeira meia hora de filme segue taco-a-taco o conto Botão Botão, de Richard Matheson (Eu Sou A Lenda, 2007) adaptado para essa série em 1986. O guarda-roupa e os cenários da época ajudam a conjurar o efeito. Exactamente como no conto e no episódio, o casal presenteado com a caixa é assaltado por dúvidas morais, mas o botão é premido ao cabo de trinta minutos de película. A partir desse limiar, livre da pena protectora de Matheson, a história torna-se exruciantemente imbecil e simplória.
O realizador do sobrevalorizado Donnie Darko (2001) e do subvalorizado Southland Tales (2006) mostra que não tem mais a oferecer do que um remake de Botão Botão e que os pratos por lavar mais valia serem partidos, porque os reflexos da lavagem são de detergente de marca branca. Em vez do alívio que devia ter sentido por ter concluído a tarefa, o casal não tem oportunidade de desfrutar da fortuna. Primeiro, tentam devolvê-la e depois o marido decide investigar a misteriosa figura do dono da caixa, adiantando-se pelos clássicos temas da paranóia governamental, interferência extraterrestre e lobotomia em saldo. Moral da história: se um ser humano é capaz de matar outro por dinheiro, a Humanidade não merece existir. E Klaato não intervirá a nosso favor. Quanto a as esposas serem os seres com moralidade mais flexível e terem de emendar os seus pecados com um tiro no coração, é no mínimo discutível.
O pior de Presente de Morte é a sua implausibilidade. Nem Chris Carter inquinou os Ficheiros Secretos desta maneira, mantendo as maquinações do Governo dentro de um bom gosto que permitiu acompanhar-lhe as tramas durante sufocantes temporadas. Quem são os «empregados» do bizarro Sr. Steward (dono da caixa), alguém que passou pela prova do botão ou um exercício de body snatching? De que serviu o teste a que o marido foi submetido, em que teria de escolher um de três portais de água (salvação num, inferno nos outros), se ter acertado não lhe trouxe qualquer proveito? E se o casal está assim tão necessitado de dinheiro, como é que habitam numa bela moradia e o marido conduz um carro desportivo? Richard Kelly perdeu totalmente o controlo da trama. Sem falar no ensaio de casamento da irmã da protagonista, onde ambas se portam como desconhecidas, a cena da Biblioteca é o cúmulo da idiotice, com dezenas de zombies e a aparição da esposa de Steward, que se supunha morta, mas cuja intervenção acaba por não servir de nada.
Em termos de proveitos de bilheteira, o filme apenas recuperou um terço dos 30 milhões que custou. Será um tabefe de luva de pelica, dado a um convencido e iludido Richard Kelly, que afirmou em entrevistas que Presente de Morte corresponderia exactamente ao que a Warner Bros esperava de um filme dirigido ao grande público. Ao provar-lhe o contrário, esse mesmo público questiona-se com o excessivo valor do orçamento, a considerar pelos mendicantes efeitos especiais e pela não existência de um único nome sonante. Cameron Diaz, James Marsden e Frank Langella são valores seguros, mas nenhum deles é magnético. Não, nem ela.
The Box 2009
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