Monday, March 22, 2010

Halloween 2, de Rob Zombie

A primeira experiência cinematográfica do músico de metal Rob Zombie data de 2003 (A Casa dos Mil Cadáveres), amálgama surrealista de imagens agressivas com pouca preocupação pelo enredo, não teve uma resposta efusiva, mas motivou-o o suficiente para concluir uma sequela (Os Rejeitados do Diabo, 2005), mais realista, mas igualmente sanguinolenta, matizada pelos conceitos de tortura e sadismo em voga com Hostel e Saw.

Ninguém se teria incomodado se Zombie tivesse abandonado a sétima arte, mas o produtor Malek Akkad (que herdou os direitos deHalloween do pai, Moustapha Akkad) apostou nele para relançar o apagado fenómeno Michael Myers. John Carpenter e a namorada Debra Hill conceberam o filão em 1978 e desenvolveram-no numa sequela, realizada por Rick Rosenthal (1981). Tudo começou com umserial killer que vitimava babysitters...

Zombie escreveu e dirigiu o remake de Halloween em 2007, tendo o cuidado de carregar a sua incompetência a cada passo. Primeiro, concentrou três quartos do filme no período infantil de Myers, a enfastiar com um enquadramento familiar falhado. Quanto à noção de que o miúdo é a encarnação do mal, o Samhain da mitologia celta, perdeu-se na interpretação.

Quando Zombie manifestou desinteresse em dirigir uma sequela, o mundo respirou de alívio e os produtores entraram em negociações com Alexandre Bustillo e Julien Muary, responsáveis pelo repulsivo e chocante (são elogios) A L’Interieur (2007), mas Zombie deu o dito pelo não dito e Akkad, absurdamente, engoliu anzol e fio. Com carta branca para seguir um rumo completamente livre face à sequela de há quase três décadas, Zombie pôs a língua no canto da boca e começou a escrever a sua versão, sem se esquecer de um lugar de destaque para a esposa, já que mais ninguém parece interessado em contratá-la.

Halloween 2 é, assim, mais uma facada no mito. Mantendo-o na sarjeta da segunda metade da colecção, Zombie assentou a trama para dois anos depois do seu remake e escrevinhou-a de modo a excluir quaisquer resquícios de frescura ou inteligência, para não destoar do percurso já efectuado. Após uma piscadela de olho ao filme de 1981, sequência despachada em forma de sonho, salta setecentos e vinte e sete dias, com um Michael Myers a acordar de uma inexplicada hibernação, a uma distância de três dias a pé da fatídica cidade de Haddonfield, Illinois, localidade privilegiada para as suas matanças. De qualquer modo, o seu relógio biológico começa a funcionar e ele põe-se a caminho.

Eterno imperscrutável imbecil, o Vulto continua a matar os mesmos figurantes escolhidos pelo aparente critério da negligente exposição sexual e acumula visões da mãe e do seu eu púbere, resquícios de um Norman Bates (Psico, 1960) que já inspirara Carpenter, a lembrá-lo de eliminar os sobreviventes do filme precedente, porque esses actores estavam obrigados por contrato a reprisar os respectivos papeis. A vulgar e sensaborona Laurie Strode, a cargo de Scout Taylor Compton, é agora uma neo-punk bipolar, de cuja boca só sai raiva e obscenidades, e Malcom McDowell, em piloto automático, entedia-se com um Dr. Loomis oportunista (a promover um livro sobre Myers no aniversário da data fatídica), que se redime de forma patética na cena climática. Com protagonistas tão pouco empáticos, venha o Diabo e leve-os. Veio. Tyler Mane é novamente o homem por trás da máscara e aqui surge com o rosto visível, camuflado por um capuz e uma extensa barba grisalha. Na versão do realizador, o seu rosto é ainda mais desvelado. Quanto ao cavalo branco, o melhor é não perguntar.

Halloween II é uma desilusão a seguir à outra. Laurie Strode era uma adolescente normal e sensata, garantindo a compaixão do público pela óbvia distinção face à arraia promíscua que era vitimada sem piedade, e agora torcemos para que seja a primeira vítima, para que nos liberte da sua miséria; o Dr. Loomis era um homem de princípios e agora vendeu a alma ao capitalismo; e Michael Myers era a imagem imponente da morte sem rosto e agora é um confuso doente mental com visões da mãe, que é quem lhe ordena que mate. A retirar a aura sobrenatural a Myers, Zombie deixa demasiado por esclarecer, nomeadamente a sua força e imortalidade. O que resta estragar?

Halloween II 2009

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