Wednesday, December 28, 2011

A Coisa, de Matthijs van Heijningen Jr.

A Coisa reverte para um parasita extraterrestre que toma a forma dos seus hospedeiros e que, no seio de uma colónia científica na Antártida, provoca a paranóia dos biólogos e a sua exterminação um a um. O parasita tem tal adaptabilidade que começou por ser um conto de John W. Campbell (intitulado Quem Vem Lá - Who Goes There), passou a filme em 1951 (A Ameaça - The Thing From Another World, de Christian Nyby), a outro filme em 1982 (The Thing – Veio de Outro Mundo, de John Carpenter), no mesmo ano tornou-se romance, em 1991 foi uma banda desenhada, em 2002 jogo de computador e finalmente, em 2011, volta ao cinema.
Os produtores Marc Abraham e Eric Newman, satisfeitos com os dividendos do sucesso do remake de Dawn of The Living Dead (O Renascer dos Mortos, 2004), procuraram outros projectos para desenterrar. Veio do Outro Mundo chamou-lhes a atenção mas, como John Carpenter é um cineasta de culto, acharam melhor trabalhar o conceito sem o copiarem. Surgiu, então, a ideia de escrever uma prequela, que terminasse precisamente onde o filme original começou.
A Coisa (2011) limita-se a desenvolver o conceito de Veio do Outro Mundo (1982) deixando as vítimas no sítio e com o aspecto com que foram encontradas pela equipa de John Carpenter, contratando duas actrizes para que nem todos os personagens tivessem pêlo na venta.Joel Edgerton, de barba, fica, curiosamente, parecido com Kurt Russell, protagonista do original, e Mary Elizabeth Winstead, apesar da intenção dos produtores, nunca chega a confundir-se com Ripley, a heroína de Alien – O 8º Passageiro (1978). Winstead é um pãozinho sem sal, ao contrário de, por exemplo, Kate Beckinsale, que enfrentou a neve com muito mais sensualidade em Whiteout (2009).
De qualquer modo, o verdadeiro personagem de A Coisa sempre foi o medo. A história vinha dos tempos da Guerra Fria, chegava dois anos antes da caça às bruxas do Senador McCarthy, mas já os Soviéticos tinham a bomba atómica, Mao controlava a República Popular da China e a guerra da Coreia, com tropas americanas no terreno, estava em pleno. Hollywood tinha passado a década anterior a desenvolver tramas onde o inimigo era alemão, agora estava na hora de mudar-lhe a cor e os contornos, já que este conflito se conduzia por trás da fachada da diplomacia, no braço de ferro da ostentação militar. A propaganda adoptou mil e uma formas e A Coisa foi uma delas. Um comunista é uma pessoa com o mesmo aspecto das outras, mas esconde um segredo capaz de destruir o tecido da democracia e da humanidade tal como os americanos a queriam moldar. Num posto perdido na neve do Pólo Sul, um grupo de militares era confrontado com um inimigo que podia esconder-se dentro de qualquer um deles e alastrar o mal aos outros, de tal modo que o amigo da véspera podia ser o inimigo de hoje. Como impedir a propagação deste Mal, como identificá-lo, como sobreviver-lhe?
Há ideias que perduram e a Guerra Fria existente ao tempo de A Ameaça aguentou-se até Veio de Outro Mundo, mas depois da queda do Muro de Berlim, da Perestroika e do 11 de Setembro, o único inimigo que sobra como caricatura usa turbante e túnica. Por conseguinte, a prequela de 2011 surge esvaziada de significado politico-social. Os noruegueses não são inimigos dos EUA e os personagens não saltam do papel. Há apenas um entrave linguístico, limado pelo facto de todos os personagens, menos um, falarem inglês. A sensação de isolamento podia ser mais opressiva, mas dou isso de barato. Infelizmente, como há muitos personagens e não se cria empatia com nenhum (nem com a protagonista), o processo de eliminação sistemática torna-se aleatório. O final, passado na nave extraterrestre, lembra o da longa-metragem Ficheiros Secretos: Fight The Future (1998) e até o de Cowboys e Aliens (2011).
O realizador Matthijs van Heijningen Jr. é estreante e o argumentista Eric Heisserer mais valia que o fosse, porque terPesadelo em Elm Street (2010) e O Último Destino 5 (2011) no currículo não é uma mais-valia. Os efeitos especiais não são mais do que razoáveis, o suspense está lá, mas ninguém se chega realmente a importar com quem é humano e quem é infectado. Se havia necessidade de repescar o título e adicionar-lhe mais um capítulo, não.
The Thing 2011

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