Thursday, December 15, 2011

Os Olhos de Júlia, de Guillem Morales

Os olhos são o espelho da alma e, por isso, os cegos despertam tanto a curiosidade do cinema de terror. Não é que não tenham alma, mas o seu espelho está baço o suficiente para poder esconder mistérios insondáveis. Olhos de Laura Mars, Abre Los Ojos/ Vanilla Sky, The Eye (original e remake), são títulos em redor do tema. Guillermo del Toro aceitou o pedido do realizador Guillem Morales, que precisava de melhores meios e mais tempo para terminar o filme do que inicialmente previsto, e volta a produzir uma película de terror espanhola, depois de O Orfanato (2007). A actriz principal é novamente Belén Rueda, a mesma que já nos maravilhara em Mar Adentro (2004).

Os Olhos de Júlia é uma história perturbadora, com um vilão misterioso que é capaz de colar-se de tal modo ao cenário que se torna literalmente invisível. Neste ponto, Guillem Morales está irrepreensível, já que a sua câmara capta exclusivamente aquilo que quer que seja visto, ocultando tudo o resto, como um ilusionista, mantendo o público tão cego como a protagonista, mesmo que esteja atento a cada ponto do ecrã. Providencial neste campo revela-se a criatividade do director de fotografia Carlos Faura, escolhendo close-ups para enublar o que está fora do ponto de focagem e iluminação especialmente atmosférica para manter bem perto do público a sensação de perigo. A música de Fernando Velásquez cumpre aqui a sua quota.

O filme começa com um puzzle. Conforme admitamos que Sara estava ou não acompanhada no momento em que se enforcou, isso poderá ser a diferença entre suicídio e homicídio. A sua irmã, Júlia, não quer acreditar e investiga. Só que, como Sara, ela sofre de uma doença degenerativa da visão, motivada pelo stress, e não há dúvida de que os próximos eventos vão puxá-la ao limite. Conseguirá resolver o mistério antes de cegar?

Mas, mem tudo são rosas. A um suspense exemplar até meio da narrativa, a recta final precipita demasiados elementos novos para a panela: o vizinho obsceno, a filha deste que entra por janelas como se fosse o Homem-Aranha e a senhora do lado que se fazia passar por cega, mas afinal apenas tentava enganar o filho. Também não se compreende como é que um transplante de córnea pode falhar tão depressa ou se havia a necessidade de desfecho tão desolador.

Los Ojos de Julia 2011


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