Thursday, February 9, 2012

The Woman, de Lucky McKee

May (2002), uma espécie de boneca de trapos ao estilo Frankenstein, arrecadou algum estatuto de culto por parte da massa pouco exigente das sessões nocturnas de TV por Cabo, o que garantiu ao seu realizador, Lucky McKee, presença na pouco criteriosa série Masters of Horror (2005), antes mesmo do seu filme seguinte, The Woods(2006), um bocejo sobre bruxas ecológicas, ser lançado directamente para vídeo.
Jack Ketchum é o pseudónimo de Dallas Mayr, um escritor de terror que foi protégé de Robert Bloch (autor de Psycho e protégé de H.P.Lovecraft). Lucky McKee produziu as adaptações cinematográficas dos seus romances The Lost (2005) e Red (2008), antes de ambos decidirem avançar com o projecto conjunto A Mulher(2011), escrito por Ketchum e rodado por McKee, a lançar simultaneamente em livro e filme. Trata-se da sequela a The Offspring que, em 2009, foi igualmente livro e filme, com guião do próprio Ketchum e realizado por Andrew van den Houton (presidente da Moderncité e produtor de diversas adaptações de livros de Ketchum: The Girl Next Door, The Offspring e A Mulher). Quem não o viu, deverá dar primazia a A Mulher. Aconselha-se, inclusivamente, total ignorância em relação a The Offspring, que não passa de umtorture porn de baixo orçamento, com uma família de canibais (do tipo Massacre no Texas) e as suas dietas pouco voluntariosas. Uma vez que a Mulher do título homónimo nunca tem o seu passado explicado, é preferível que assim permaneça.
Em A Mulher, um advogado de uma pequena localidade encontra, num domingo de caça nos bosques, uma mulher selvagem, que decide capturar e aprisionar na cave da arrecadação, de maneira a “civilizá-la”. Uma vez que entregá-la às autoridades nunca lhe passou pela cabeça, este comportamento pouco ortodoxo deixa antever a disfuncionalidade do seu tecto familiar, onde esposa e filha vivem em medo da sua misoginia e sadismo. Segue-se a subversão dos valores morais e familiares na América profunda, em tom chocante e desconfortável.
A Mulher é um filme arriscado, que se embrenha no bizarro sem desculpas e mantém a curiosidade até ao final, mas não impede que os seus enguiços se façam sentir, por vezes pesadamente. Entre quem sabe e quem pode, Lucky McKee fica de fora. Começa coxo e termina aos tropeções, com uma inconsistente adição anoftálmica, na recta final, a borrar todo o equilíbrio lógico, apesar de doentio, entretanto alcançado. É o que acontece quando se é mais papista do que o papa…
Senso comum também é coisa que parece ter ficado de fora. A Mulher é uma criatura imunda, com uma higiene dentária hedionda, que vive no mato como um animal, mas aparentemente preocupa-se em depilar as pernas e as axilas e em manter o tufo vaginal num respeitável triângulo. O choque que se pretende com a revelação em relação à filha prenha já se adivinhava muito antes, desde o comentário da professora à mudança de vestuário dela. A mãe decidiu confrontar o filho perante o pai, invocando que este se tocara à custa da prisioneira, mas não menciona o uso do alicate, que seria um argumento muito mais ponderoso (no mínimo, estragava a mercadoria). Dispensável era a adição de irritantes e desajustadas canções rock indie na banda sonora, que anulam qualquer sensação de realidade às cenas que interrompem. E que objectivo cumpre a Mulher levar a menina consigo, no final?
Quanto ao elenco, Pollyanna McIntosh está excelente, Angela Bettis faz mais do mesmo (ela que foi May, no filme May) e Sean Bridgers funciona para estabelecer a dicotomia entre a sua presença pública e privada, mas como patriarca sádico fica aquém do recado. Carlee Baker, ainda que bonita, é muito afectada e teatral. A Mulhercapitaliza no enredo incomum, o que o tornava, à partida, promissor, mas vulgariza-se com o tratamento pedestre. Não é convincente e não excede barreiras, nem sequer do mau gosto.
The Woman 2011

1 comment:

  1. Oi
    Eu curti o filme, adorei a trilha e destaco o Zach Rand que faz o Brian Cleek_ele realmente me deixou perturbada com tamanha frieza e maldade incubadas, meus sais!
    Qual não foi minha surpresa quando vi imagens do Zach no Sundance Festival e descobri que o menino é uma simpatia, tem um sorriso maravilhoso e já atuou na Broadway!
    Consegiu contatá-lo, trocamos emails, ele é super educado, pretende ir a Princeton futuramente e ainda atuar e cantar muito!

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