Thursday, December 15, 2011

Apollo 18 - Missão Proibida, de Gonzalo López-Gallego

1969 marcou um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade, mas o ano seguinte, no caso das missões lunares norte-americanas, deu um passo atrás. Cortes no financiamento da NASA conduziram ao cancelamento das três últimas viagens programadas, Apollo 18, 19 e 20.

Apollo 18 tem o azar de chegar numa altura em que já ninguém acredita em embustes. O Projecto Blair Witch (1999) foi o primeiro filme a afirmar ser composto pela montagem de gravações abandonadas por pessoas presumivelmente mortas, chegando ao cúmulo de criar um site em que os actores eram dados como desaparecidos, para tentar convencer da fidedignidade das filmagens. Tinha nascido o fenómeno da câmara subjectiva, explorado exaustivamente durante a última década, emblemático agora por Actividade Paranormal (2009), o único a completar uma trilogia.

Quanto ao artifício de Apollo 18, supostamente, teriam sido vazadas oitenta e quatro horas de filmagens oficiais dessa missão lunar para um site da Internet e a produção do filme ter-se-ia limitado a montar 90 minutos desse material. A favor do realizador espanhol Gonzalo López-Gallego, a sua quarta longa-metragem não é isenta de mérito, mas esta fica-se pela caracterização. A encenação é excelente, tanto na apresentação da tripulação da nave como no efeito claustrofóbico e realista do interior do módulo lunar. José David Montero porta-se bem na direcção de fotografia, imprimindo ao ecrã um recorte de película antiga, quadrada e recortada nos cantos, com um adequado ar de snuff. A montagem do experiente Patrick Lussier ajuda com uma colagem estrategicamente deficiente e constantes reproduções à procura de focagem. Este efeito dura cerca de 20 minutos, quando a partir daí começam a notar-se ângulos e enquadramentos injustificados, já que não coincidem com a localização das câmaras fixas nem os personagens seguram uma máquina de filmar.

A ideia básica tinha saída: A Apollo 18, afinal, não foi cancelada mas, como correu mal, todo o projecto foi ocultado da comunicação social. O filme propõe-se a revelar o que aconteceu aos tripulantes. Enviada para a lua em 1973, com uma missão de recolha geológica, a equipa depara-se com uma sonda soviética desocupada e um cosmonauta morto numa cratera. Como deveriam ser os únicos humanos na região, os norte-americanos suspeitam de manipulação por Houston e que a verdadeira missão era investigarem o que aconteceu aos russos. As cautelosas comunicações com a base terrestre não os sossegam.

Infelizmente, a curiosidade também morre depressa porque, em vez de atrair com migalhas, as pistas são logo demasiado óbvias. O inimigo esconde-se à vista: as rochas são seres vivos, uma espécie de crustáceos com patas, que se movem como caranguejos e são capazes de cortar os fatos dos astronautas e carne humana. O mistério é desvendado a um terço da fita e o resto fica enguiçado, sem propósito ou virtude. Concede-se que o conceito de afirmar que a vida na lua reside na própria crosta lunar é interessante, mas a concretização é débil, para não ser mais contundente.

Mesmo para a História do artifício cénico da câmara subjectiva,Apollo 18 não passa de uma nota de rodapé e nem presta um serviço à prova de bala. Já sem repetir os ângulos de câmara onde não há câmaras, se a Apollo 18 foi a última missão lunar, como é que foram recuperadas as filmagens, até hoje abandonadas a milhões de quilómetros de distância? A própria tripulação menciona a inexistência de sistemas de live feed para a NASA e que, se a sonda não regressar à Terra, ninguém saberá o que aconteceu.

Apollo 18 2011


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