Deus ex machina é uma expressão latina nascida no teatro clássico grego, criada para as resoluções saídas da cartola. Historicamente, muitas peças terminavam com Deus a aparecer em cena para pôr fim a uma trama humana que já esticara toda a corda da imaginação dramatúrgica do autor mas, actualmente, qualquer elemento inesperado e fora da lógica interna, que venha resolver uma situação insolúvel, é aceite (por exemplo, quando um crime parece perfeito, surge a confissão). Recentemente, a expressão tem aparecido no campo da inteligência artificial, já que, literalmente, significa Deus saído da máquina.
Ex-Machina (2015) é um filme de Alex Garland sobre a semana que um humano passa a conhecer o protótipo de um androide desenhado com padrões estéticos femininos, experiência desenvolvida e controlada pelo próprio cientista inventor. Atraído pela imagem angelical da máquina, o incauto decide retirá-la às malhas do cientista e vem a sofrer com esse jogo, num final que poderá ou não servir a conclusão de que as mulheres são, por natureza, frias. Uncanny, estreado no mesmo ano, parte da mesma matéria, mas mudando a óptica pela troca de sexos: um androide e uma humana. Temos, então, uma semana de entrevistas de uma jornalista especialista em robótica ao laboratório de um cientista e ao seu protótipo de androide. Neste caso, ela deixa-se atrair pelo cientista e não pela máquina. A máquina reage.
Ex-Machina é um filme previsível, que explora a sensualidade das actrizes Alicia Vikander e Sonoya Mizuno, enquanto Uncanny se mostra mais recatado, mas ambos apostam no factor comportamental psicológico com pendor para a sexualidade inata. Curiosamente, ambos seguem construções lógicas simples, com um mecanismo de surpresa não dissonante preparado para o final, pelo que nenhum deles é, afinal, exemplo de deus ex machina no sentido clássico. Considerando que ambos, de certa forma, se complementam e merecem atenção, salienta-se a superioridade de Uncanny e desiste-se da demanda de reclamar qual o projecto que terá arrancado primeiro, uma vez que Alex Garland fala de inspirações que datam ao seu primeiro computador pessoal e Shahin Chandrasoma (guionista de Uncanny e médico urologista que emprega robótica em operações cirúrgicas) diz que o primeiro computador pessoal que viu foi o de Arthur C. Clarke, autor de 2001: Odisseia no Espaço, pelo que decifrar o vencedor do braço de ferro não é fácil. Como achas para a fogueira, invoca-se as filmagens de Uncanny decorreram em 2012 (dificuldade das produções de baixo orçamento) e que o anterior guião de Garland, Dredd (2012), foi criticado por semelhanças com The Raid (2011). Lucy Griffiths (agora na série Preacher), Mark Webber e David Clyaton Rogers centram o elenco.
Uncanny 2015
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