Tuesday, November 15, 2016

The Fits, de Anna Rose Holmer

   
Seis alunas de dança de um ginásio sofrem um episódio de espasmos cada, sendo que o espaçamento entre cada caso cria um ambiente generalizado de inquietação. Contudo, o filme furta-se à apresentação de explicações e ao desenvolvimento de personagens. Sabemos tão pouco sobre a protagonista no final como no início do filme. Toda a acção se passa dentro e em redor do edifício e apenas fugazmente se assiste à presença de adultos. O resto são adolescentes de diversas idades a terem excertos de conversas banais. A realização sonolenta não ajuda a criar empatia com nada para além do relógio, especialmente depois do espectador se aperceber de que tudo não passou de um rato a correr numa roda de exercício.
Em retrospectiva, The Fits é um filme frustrante. Os factos são observados da linha do fundo por uma protagonista nada empenhada ou curiosa, que olha desinteressadamente, sem participar ou questionar. É inegável que a actriz de onze anos Royalty Hightower (há com cada nome), escolhida logo ao primeiro dia de um casting (então com nove anos) que envolveu centenas de dançarinas, faz o seu papel na perfeição, mas mantém uma expressão impenetrável durante todo o processo, ao ponto de, quando alguém sugere que os espasmos poderão ter a ver com o fornecimento da água, suspeitarmos dela (tratar-se-á de uma pequena sociopata a eliminar a concorrência?).
Em oposição ao que as press releases afirmam, sobre tratar-se de uma menina que se esforça desesperadamente por ser aceite dentro de um novo grupo (passa do treino de boxe com o irmão mais velho para o salão de dança no piso de cima do centro comunitário), não se verifica o menor esforço em integrar-se, limitando-se a sua adaptação à aprendizagem do número de dança eliminatório. Também há quem opte pelo outro extremo do espectro e fale de isolamento psicológico, mas também tal não colhe, porque a protagonista, ainda que solitária, é capaz de conviver quando necessário (uma personagem secundária, mais faladora e sociável, torna-se sua amiga e passam a dialogar diariamente).
Temos, então, uma menina de 11 anos que convive com rapazes porque o irmão trabalha no ginásio e decide ingressar no grupo de dança, que é exclusivamente feminino. As quatro raparigas mais velhas têm um caso de desmaio precedido de convulsões cada e, antes que a idade seja prognóstico, o mesmo ocorre à mais nova. Curiosamente, as ditas convulsões confundem-se com o estilo de dança do grupo, uma espécie de confronto competitivo, agressivo como uma batalha, próximo do krump.
Por outro lado, e mesmo revelando-se uma desilusão pela sua inconsequência, The Fits é um pequeno projecto independente que merece atenção. Pelo seu inconformismo e abstracção, produzido no contexto de um programa do Biennale College Cinema, cujas regras obrigam, entre outras restrições, a realizar um filme em menos de um ano e por menos de 150 mil dólares. Esteticamente irrepreensível, conta com uma banda sonora que procura o desequilíbrio átono e actores estreantes promissores. Simplesmente, nos seus 72 minutos de duração, podia ter havido lugar para aprofundar o tema e os personagens. É no enredo que o filme mais falha.
The Fits 2015

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