Monday, September 5, 2016

Lar, de Frank Lin

    
Mais amador do que independente, Home é terror de trazer por casa, com dois nomes tão familiares que Heather Langenkamp e Samantha Mumba interpretam, respectivamente, Heather e Samantha. Duas one hit wonders por excelência, a primeira enfrentou Freddy Krueger (Pesadelo em Elm Street, Pesadelo em Elm Street III e Novo Pesadelo em Elm Street) e a segunda lançou um disco em 2000 e desapareceu com A Máquina do Tempo (filme de 2002). Home é escrito por Frank Lin e Jeff Lam, dois nomes curiosos pela sonoridade Lin e Lam, com o do realizador a soar curiosamente como Franklin. Se Home é um incongruente e inútil refogado de clichés, o anterior filme de Lin, Battle B-Boy (2014), centra-se num fight club cuja primeira regra é incorporar movimentos de hip hop nos combates. Jeff Lam nunca escreveu uma linha antes.
Home é tão incoerente que só pode ser visto como um claro aviso de tudo o que deve evitar-se quando não se sabe o que se faz. Plotholes, plotholes everywhere. Um casal interracial de lésbicas de meia idade, ambas com filhas de relacionamento anterior, mudam de casa (e eventualmente de cidade) e recebem, na mesma data, a visita da filha em idade universitária, visita que a filha diz à mãe ser por alguns dias e a mãe informa a esposa de que será por um par de meses. A jovem é uma fervorosa religiosa (transporta um crucifixo para colocar na parede do quarto de hóspedes e outro num fio ao pescoço e insiste em recitar uma oração a agradecer as refeições), mas encontra-se em segredo com um rapaz (com quem parece especialmente à vontade, tendo chegado na véspera) e convida-o para visitá-la à noite, pois a mãe e a madrasta estarão ausentes, ficando ela como babysitter da irmã (por afinidade). A criança não quer que as mães se ausentem e tranca-se no quarto (atrasando a saída), ao que a madrasta menciona que ela faz sempre o mesmo (esconderem a chave do quarto parece fora de questão). São visitadas no dia da mudança por um vizinho que, obviamente, revela que a casa é assombrada pelo anterior dono, porque é o que dizem os vizinhos equilibrados que se anunciam como professores da escola primária onde a filha vai apresentar-se no dia seguinte para a primeira aula.
Tudo isto faz temer o pior e, simplesmente, nada acontece para além de ruídos no sótão, um boneco de ventríloquo que não se mexe, portas que se abrem e fecham sozinhas e, após um rápido exorcismo retirado da internet, a criança que vem à sala urinar pelas pernas abaixo, a imitar a menina de O Exorcista (1973); no campo das inconsistências, há que referir que a criança já se tinha ido deitar, mas desce para urinar nas pernas vestida de saia e camisola de malha, meias brancas e ténis com os atacadores atados. A babysister (trocadilho com babysitter, porque posso), antes de ser surpreendida pela sister de bexiga preguiçosa (ou será solícita?), preparava-se para, despachado o exorcismo e um telefonema da mãe, montar o namorado no sofá da sala, como qualquer jovem católica que se preze.
No final, tenta-se o twist do afinal foi tudo um sonho, mas com um twist: a criança, no seu primeiro dia de aulas, sofreu um acidente fatal, não tendo regressado a casa, apesar das mães e da irmã a terem visto depois disso. Aparentemente, o resto do tempo esteve possuída. Confuso é o facto do vizinho professor ter sido quem trouxe a menina para casa e na manhã seguinte negar o facto, ao acompanhar a polícia com a triste notícia. Afinal, a alma penada foi reclamar o cadáver à escola e o professor trouxe-a e não se lembra ou a alma penada veio sozinha para casa, no corpo da menina, depois de ter lavado todo o sangue da cabeça e roupa, e plantou na cabeça das mães e irmã a ideia de que vinha acompanhada?
Para além do constante atropelo narrativo e factual, todas as personagens são irritantes. Quanto às duas actrizes que poderiam justificar o visionamento por parte dos fãs, cabe dizer que, independentemente de serem lésbicas porque sim e sem um beijo sequer, não estão presentes durante mais de metade do filme, nomeadamente o segmento assombrado, e os seus papeis são extremamente básicos. Kerry Knuppe, a jovem católica, já foi filha de lésbica em Um Final Perfeito (2012) e Alessandra Shelby Farmer (até o nome irrita) é estreante. Lew Temple (Walking Dead season 2) é o vizinho, de nome ... Lew.
O guião não explora nenhum dos temas que se poderiam revelar mais valias: a homossexualidade de duas mulheres de raças diferentes e com uma marcante diferença de idades (uma actriz tem 51 anos e a outra 33), que terão saído tardiamente do armário (ambas têm filhas biológicas), e o confronto de todas essas realidades com a religiosidade da filha com idade para sentir atracção sexual (no caso, por espécimes do sexo oposto). Não há uma linha de diálogo sobre nada disto, seja com a mãe, com o namorado nem com Deus em oração, apenas uma ternura genérica entre as duas adultas e desaprovação no olhar da filha mais crescida. Inconsistente é também a forma como a educação religiosa da protagonista (quem tem mais tempo de antena ganha) é sintonizada e o recato nunca prevalece quando o rapaz de quem gosta está por perto. Prejudicado por todos estes ponto, não será demais frisar que Home é amador, insípido, incongruente e insatisfatório a todos os níveis. E não assusta.
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