S. Craig Zahler é um escritor com gosto pela fotografia e a sorte de ter Kurt Russell entre os seus fieis. Bone Tomahawk, primeiro filme do romancista, é um equívoco, vendido sob a chancela de horror western. Começa inspirado em Rio Bravo (1959), mas engana-se no caminho e vai parar a Wrong Turn (2003).
Quando a pena e a câmara estão nas mãos do mesmo profissional, estreante ou não, há inconsistências que são imperdoáveis e esse é o caso em Bone Tomahawk. Eventualmente inseguro na sua capacidade de aglutinação, Zahler permite-se um considerável preciosismo em estabelecer a premissa e o ambiente adequado aos eventos, para então atrapalhar-se e apressar demasiado o desfecho. Admite-se a pressão de um baixo orçamento, mas não que o guião não tenha deflectido os problemas. A direcção de fotografia e o humor ingénuo de um dos coadjuvantes não são suficientes quando tudo o resto falha.
Agora, tudo o que há de errado. Dois marginais pisam solo índio, um é morto imediatamente por uma flecha, o outro é perseguido durante mais de 24 horas até ser preso numa pequena localidade, por um xerife zeloso, cujo ajudante viu enterrar bens numa cova. Porque é que os índios não mataram logo os dois, antes deixando um deles evadir-se durante tão longa distância e espaço de tempo? Na manhã seguinte, a aldeia acorda para a realidade de que a cadeia foi assaltada e três pessoas (o preso, um ajudante do xerife e a enfermeira) desapareceram sem deixar rasto. Apesar dessa parte do ataque ter sido cirúrgica, os índios deixaram para trás o cadáver de um empregado de estábulo e uma flecha suficientemente distinta para poder determinar-lhe a proveniência: uma tribo má como as cobras, as quais têm má fama por uma razão que transcende o filme. Decide-se então o resgate dos três raptados, por um grupo de … quatro pessoas. O xerife e o ajudante (dois velhos), o marido da enfermeira (apesar de ter a perna partida) e outro indivíduo que, aparentemente, gosta de matar índios. Quatro homens a cavalo, para enfrentarem uma tribo inteira? não era possível juntar os habitantes, chamar voluntários, oferecer uma recompensa? Não. Sem plano definido, os quatro põem-se a caminho, cruzam-se com dois mexicanos, os cavalos são roubados nessa noite porque ninguém ficou de vigia, continuam a pé porque são desorganizados, mas determinados. Como é que sabem que estão a ir na direcção certa? Alguém deve ter uma bússula (bem guardada, mas deve) ou excelentes qualidades de batedor. O perneta segue com atraso (vão a pé), mas acaba por revelar-se um Rambo contra índios atléticos e (pasme-se) canibais, que até cortam um homem em dois como na cena inicial de uma das sequelas de Wrong Turn. Toda a cena na gruta dos índios canibais é filmada de modo amador, os índios comportam-se como animais imbecis e cobrem-se de farinha, porque os actores deviam ser brancos a fazer de peles vermelhas, que índios a sério recusavam-se a papeis destes. Note-se que estes são os mesmos índios que conduziram um raid silencioso à aldeia dos heróis, capazes de capturar pessoas como um relâmpago, sem lhes darem oportunidade de defesa ou gritar, e agora caem como tordos.
Bone Tomahawk só pode ser visto sem cérebro. Dessa forma, é um western incomum e curioso, com um grupo de heróis dispostos a salvar uma donzela das mãos de temíveis índios, custe o que custar e sem pensar nas consequências. Caso contrário, não faz sentido nenhum. Porque haveriam os índios de tecer tão demorada perseguição ao marginal, apenas para trazê-lo de volta e comê-lo? Porque é que não o capturaram logo? Que significado tinha ele para eles, para se afastarem tanto de casa? Como explicar o comportamento do marginal, que se dirigiu ao saloon para tomar uma bebida, como se desconhecesse ser perseguido? Etc. Entretanto, fica a informação de que o filme é estrelado por Kurt Russell, Matthew Fox, Patrick Wilson e Richard Jenkins. Oportunidade perdida para todos eles e para o público, que devia ter sido melhor tratado, especialmente na recta final onde canibalismo se torna sinónimo de aborrecimento.
Bone Tomahawk 2015
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