Martha, personagem desenquadrada na sociedade, à nora depois da morte da mãe, contacta a irmã após uma ausência de dois anos, período durante o qual viveu no seio de um culto patriarcal embrionário, um grupo misto com o desejo de auto-suficiência e partilha total, do trabalho aos corpos, mas cuja filosofia inferioriza as mulheres, não respeita a propriedade privada nem o direito à vida de terceiros.
Martha, que se refugia na casa de campo da irmã para recuperar do trauma, revela-se incapaz de adaptar-se à normalidade e manifesta uma clara dissociação da realidade, não distinguindo inteiramente passado e presente, ao ponto de sentir que ambos correm em simultâneo. O final em aberto não refuta, sequer, a hipótese de a narrativa, em vez de seguir o percurso da personagem desde que escapa da seita, no início do filme, ser fundamentalmente uma alucinação, ao estilo do excelente Jacob’s Ladder – BZ Viagem Alucinante (1990), de Adrian Lyne.
Uma estreia para o realizador (Sean Durkin também escreveu) e para a protagonista (Elizabeth Olsen é a irmã mais nova das gémeas Mary-Kate e Ashley Olsen), Martha Marcy May Marlene é um drama inquietante, carregado de um suspense tão arrepiante que o aproxima do terror psicológico, de tal modo bem urdido que deixa o público indefeso, como uma vítima amarrada ao assento. O ritmo é propositadamente enervante, pautado contraditoriamente por partes iguais de ansiedade e sonolência, numa desorientação que visa a não compreensão imediata de toda a dimensão do trauma da personagem, que nos faz vaguear por um trilho às escuras, iluminado apenas por migalhas estrategicamente dispostas. É nessa técnica àHansel e Gretel que o filme se torna tão recompensador.
Martha Marcy May Marlene 2011
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