Wednesday, December 28, 2011
A Coisa, de Matthijs van Heijningen Jr.
A Noite do Espanto, Craig Gillespie
Thursday, December 15, 2011
A Casa dos Sonhos, de Jim Sheridan
Reconhece-se que o argumento de David Loucka (tem um guião filmado por década, desde 1989) está bem construído, à excepção do final que, de tão atropelado, deita todo o filme a perder. O realizador também não é livre de culpa, pois não sabe alimentar os seus actores, nem o mistério. Para inquietar a plateia, só sabe forçar ruídos e esconder vultos ao longe, com duas actrizes de peso, Rachel Weisz e Naomi Watts, completamente desperdiçadas. Pior do que elas, Elias Koteas, um nome que em tempos foi promissor mas hoje não tem fama nem cabelo, parece ter recebido uma esmola, e Marton Csokas aproveitou duas ou três cenas para pôr num currículo mais bem servido no mesmo ano por A Dívida. Daniel Craig é rei e senhor.
Dream House 2011
Contágio, de Steven Soderbergh
Um olhar clínico sobre o alastrar de uma pandemia virulenta, seguindo o percurso das instituições accionadas no sentido de conter o vírus, estudá-lo, cultivá-lo e finalmente extrair dados suficientes para a criação de uma vacina. A paranóia em redor da gripe das aves, no verão de 2010, despoletou o interesse de Steven Soderbergh e o argumentista Scott Z. Burns fez-lhe a vontade. É a segunda vez que os dois trabalham juntos (O Delator, 2009), mas a brincadeira passou a seriedade. Burns já tinha participado no guião de Bourne Ultimato (2007), por isso sabe o que é necessário para deter um assassino sem nome.
Ambiciosamente, a história começa no dia 2 da propagação do vírus e avança a partir daí, estabelecendo que todos os actos humanos são comportamentos de risco, já que tocamos em tudo e os germes transmitem-se pelo ar e pelo contacto físico. Este mecanismo, para além de provocar o pânico aos hipocondríacos, tenta desarmar o espectador comum, cujo modus operandi o coloca à mercê da ameaça. A partir daí, segue-se o caminho típico do E se… , através de um processo que a comunidade científica apreciou pelo seu rigor e fiabilidade, mas que peca por alienar tanto o vírus como o público.
Contágio está recheado de actores com Óscares (Marion Cottillard, Matt Damon, Gwyneth Paltrow e Kate Winslet) e nomeações (Jude Law, Laurence Fishburne, John Hawkes e Elliot Gould), como se Soderbergh fosse, ao contrário de uma praga, um aglutinador de talentos mas, infelizmente, são mais sonantes os nomes do que os papéis. O elenco de ensemble dá pouco a cada personagem e o aprofundamento individual é nulo. Chega-se ao final com a sensação de missão cumprida, mas não que seja para recordar.
Contagion 2011
Apollo 18 - Missão Proibida, de Gonzalo López-Gallego
1969 marcou um pequeno passo para o homem e um grande passo para a humanidade, mas o ano seguinte, no caso das missões lunares norte-americanas, deu um passo atrás. Cortes no financiamento da NASA conduziram ao cancelamento das três últimas viagens programadas, Apollo 18, 19 e 20.
Apollo 18 tem o azar de chegar numa altura em que já ninguém acredita em embustes. O Projecto Blair Witch (1999) foi o primeiro filme a afirmar ser composto pela montagem de gravações abandonadas por pessoas presumivelmente mortas, chegando ao cúmulo de criar um site em que os actores eram dados como desaparecidos, para tentar convencer da fidedignidade das filmagens. Tinha nascido o fenómeno da câmara subjectiva, explorado exaustivamente durante a última década, emblemático agora por Actividade Paranormal (2009), o único a completar uma trilogia.
Quanto ao artifício de Apollo 18, supostamente, teriam sido vazadas oitenta e quatro horas de filmagens oficiais dessa missão lunar para um site da Internet e a produção do filme ter-se-ia limitado a montar 90 minutos desse material. A favor do realizador espanhol Gonzalo López-Gallego, a sua quarta longa-metragem não é isenta de mérito, mas esta fica-se pela caracterização. A encenação é excelente, tanto na apresentação da tripulação da nave como no efeito claustrofóbico e realista do interior do módulo lunar. José David Montero porta-se bem na direcção de fotografia, imprimindo ao ecrã um recorte de película antiga, quadrada e recortada nos cantos, com um adequado ar de snuff. A montagem do experiente Patrick Lussier ajuda com uma colagem estrategicamente deficiente e constantes reproduções à procura de focagem. Este efeito dura cerca de 20 minutos, quando a partir daí começam a notar-se ângulos e enquadramentos injustificados, já que não coincidem com a localização das câmaras fixas nem os personagens seguram uma máquina de filmar.
A ideia básica tinha saída: A Apollo 18, afinal, não foi cancelada mas, como correu mal, todo o projecto foi ocultado da comunicação social. O filme propõe-se a revelar o que aconteceu aos tripulantes. Enviada para a lua em 1973, com uma missão de recolha geológica, a equipa depara-se com uma sonda soviética desocupada e um cosmonauta morto numa cratera. Como deveriam ser os únicos humanos na região, os norte-americanos suspeitam de manipulação por Houston e que a verdadeira missão era investigarem o que aconteceu aos russos. As cautelosas comunicações com a base terrestre não os sossegam.
Infelizmente, a curiosidade também morre depressa porque, em vez de atrair com migalhas, as pistas são logo demasiado óbvias. O inimigo esconde-se à vista: as rochas são seres vivos, uma espécie de crustáceos com patas, que se movem como caranguejos e são capazes de cortar os fatos dos astronautas e carne humana. O mistério é desvendado a um terço da fita e o resto fica enguiçado, sem propósito ou virtude. Concede-se que o conceito de afirmar que a vida na lua reside na própria crosta lunar é interessante, mas a concretização é débil, para não ser mais contundente.
Mesmo para a História do artifício cénico da câmara subjectiva,Apollo 18 não passa de uma nota de rodapé e nem presta um serviço à prova de bala. Já sem repetir os ângulos de câmara onde não há câmaras, se a Apollo 18 foi a última missão lunar, como é que foram recuperadas as filmagens, até hoje abandonadas a milhões de quilómetros de distância? A própria tripulação menciona a inexistência de sistemas de live feed para a NASA e que, se a sonda não regressar à Terra, ninguém saberá o que aconteceu.
Apollo 18 2011
Medo Profundo 3D, de David R. Ellis
O peixe mais mediático está de volta à sétima arte mas, infelizmente, pelas mãos que maltrataram Serpentes A Bordo (2006). David R. Ellis era um duplo que passou a coordenador dessa arte de brincar com o perigo em 1978 (A Invasão dos Body Snatchers), a assistente de realização em 1983 (Gorky Park) e a realizador em 1996 (Homeward Bound 2). Os seus títulos mais marcantes sãoCellular - Ligação de Alto Risco (2004) e o já referido e anedóticoSerpentes A Bordo.
Steven Spielberg sempre foi atraído pelo peso e, antes de dar a Robin Williams o papel de Peter Pan, fez acelerar pelas estradas poeirentas e pelas águas geladas dois assassinos com tonelagem robusta: um camião TIR (Duel, 1972) e um tubarão branco (O Tubarão, 1975). Ambos despoletaram inúmeros seguidores, com os oceanos a serem dominados pela máquina assassina em formato de torpedo, com barbatana dorsal ameaçadora e dentes de motosserra.
David R. Ellis trata os peixes como tratou os répteis. Sem zelo, sem panache, sem cuidado. O seu método de meia bola e força é evidente em cada cena e o resultado é deplorável. Obviamente que o título não engana e Ellis deve conhecer os seus próprios méritos, concluindo assim que, se o projecto lhe era entregue, as expectativas seriam mínimas. Mesmo assim, não cumpre.
O título original, Noite de Tubarões 3D, diz tudo, ou deveria. Reduzindo a película à desconstrução do título: noite, tubarões eestereoscopia, a única coisa que surpreende é a ausência de topless. Mais, ataques diurnos, paralaxe neutra e tubarões CGI de qualidade deplorável, assim como as ondulações que provocam na água. Se recordarmos Deep Blue Sea (1999), a incursão do finlandês Renny Harlin na piscina dos predadores, fica a sensação de que não ocorreu a menor evolução, em termos de animação por computador, nos últimos doze anos. Terá sido, eventualmente, falta de investimento, a desperdiçar um orçamento de 25 mil euros em tubarões de borracha e toalhas de praia.
O elenco não tem nomes sonantes, como se imaginava, mas não deixa de ser curioso. Sara Paxton já foi sereia em Aquamarine(2006) e Chris Carmack mergulhador em Into The Blue 2 (2009). Carmack entrou em Efeito Borboleta 3 (2009) e Dustin Milligan emEfeito Borboleta 2 (2006). Chris Zylka saiu daqui para Piranha 3DD(2012). Joel David Moore já é um rosto conhecido, com presenças mais notórias na sátira a Sexta Feira 13, Hatchet (2006) e Avatar(2009). Joshua Leonard estreou-se em Projecto Blair Witch (1999). Katharine McPhee entrou no American Idol (2002), não é uma scream queen, mas tem bom corpo.
Medo Profundo 3D devia chamar-se Shark Weekend em vez de Shark Night, já que se passa durante um fim-de-semana e os tubarões também mordem de dia. Infelizmente, um filme de biquinis e barbatanas para adolescentes é demasiado tímido em carnes e dentadas e leva-se demasiado a sério para tão pouco empenho. Ao contrário de Piranha 3D (2010), Medo Profundo 3D esquece-se do seu propósito e não sabe entreter. Os tubarões são esparsos e pindéricos, o enredo é ridículo e tem ainda situações que raiam o mau gosto, como um negro de lança (Shaka Zulu?) a querer caçar um tubarão com água pela cintura; e consegue, porque o tubarão vem até ele. Mas, o pior da fita é não ser envolvente nem impressionante. E tubarões que não impressionam …
Shark Night 3D 2011
Não Tenhas Medo do Escuro, de Troy Nixey
Não Tenhas Medo do Escuro é a última produção de Guillermo Del Toro, remake de um telefilme com estatuto de culto de 1973. Del Toro co-escreveu o guião, dizendo-se influenciado por Arthur Machen, mas isso de pouco significa, já que Machen inspira seguidores há mais de um século, tendo sido considerado por H.P. Lovecraft como um dos quatro autores mais influentes do género, noção reforçada por Stephen King no século XX, com o conto The Great God Pan a ser eleito como o melhor trabalho de Machen (de notar que O Labirinto de Fauno, filme fantasista de Del Toro, é, no original, o Labirinto de Pan).
Guy Pearce e Katie Holmes estrelam, mas o ovo é podre. A história é simples, mas mais estúpida do que no original. Numa mansão, há criaturas encerradas por trás da caldeira da cave, que têm como regra matarem a pessoa que as solta; deve ser a sua forma de agradecerem a liberdade. Del Toro mistura isso com uma inicial martelada nos dentes, mas a ligação entre as criaturas da caldeira e a fada dos dentes é meramente formal e nunca chega a ter seguimento, já que as criaturas só se interessam por dentes no prólogo.
As criaturas, composições integralmente em CGI que parecem ratazanas corcundas, são a única curiosidade do filme, mas cansam depressa. O enredo é pedestre e as representações também, chorando-se aqui a presença apagada de Guy Pearce, já que a de Katie Holmes é tão risível como tudo (o pouco) que fez desdeDawson’s Creek. É daquelas fitas onde os personagens fazem o que não devem, desconsideram pistas evidentes e ocorrem coisas absurdas como a polícia arquivar como acidente um incidente que envolve um homem adulto alvo de dezenas de cortes de x-ato. Qual terá sido o corte acidental, o primeiro ou o vigésimo?
Don’t Be Afraid of the Dark 2011
Os Olhos de Júlia, de Guillem Morales
Os olhos são o espelho da alma e, por isso, os cegos despertam tanto a curiosidade do cinema de terror. Não é que não tenham alma, mas o seu espelho está baço o suficiente para poder esconder mistérios insondáveis. Olhos de Laura Mars, Abre Los Ojos/ Vanilla Sky, The Eye (original e remake), são títulos em redor do tema. Guillermo del Toro aceitou o pedido do realizador Guillem Morales, que precisava de melhores meios e mais tempo para terminar o filme do que inicialmente previsto, e volta a produzir uma película de terror espanhola, depois de O Orfanato (2007). A actriz principal é novamente Belén Rueda, a mesma que já nos maravilhara
Os Olhos de Júlia é uma história perturbadora, com um vilão misterioso que é capaz de colar-se de tal modo ao cenário que se torna literalmente invisível. Neste ponto, Guillem Morales está irrepreensível, já que a sua câmara capta exclusivamente aquilo que quer que seja visto, ocultando tudo o resto, como um ilusionista, mantendo o público tão cego como a protagonista, mesmo que esteja atento a cada ponto do ecrã. Providencial neste campo revela-se a criatividade do director de fotografia Carlos Faura, escolhendo close-ups para enublar o que está fora do ponto de focagem e iluminação especialmente atmosférica para manter bem perto do público a sensação de perigo. A música de Fernando Velásquez cumpre aqui a sua quota.
O filme começa com um puzzle. Conforme admitamos que Sara estava ou não acompanhada no momento em que se enforcou, isso poderá ser a diferença entre suicídio e homicídio. A sua irmã, Júlia, não quer acreditar e investiga. Só que, como Sara, ela sofre de uma doença degenerativa da visão, motivada pelo stress, e não há dúvida de que os próximos eventos vão puxá-la ao limite. Conseguirá resolver o mistério antes de cegar?
Mas, mem tudo são rosas. A um suspense exemplar até meio da narrativa, a recta final precipita demasiados elementos novos para a panela: o vizinho obsceno, a filha deste que entra por janelas como se fosse o Homem-Aranha e a senhora do lado que se fazia passar por cega, mas afinal apenas tentava enganar o filho. Também não se compreende como é que um transplante de córnea pode falhar tão depressa ou se havia a necessidade de desfecho tão desolador.
Los Ojos de Julia 2011