Depois de Saw VI ter encerrado satisfatoriamente a segunda trilogia de Gigsaw, surge uma sétima toma, desta vez filmada
O fraco retorno de bilheteira de Saw VI obrigou a produtora a fechar a torneira antecipadamente e Patrick Melton e Marcus Dunstan, argumentistas da segunda metade da saga, optaram por condensar as ideias que tinham para Saw VII e Saw VIII num único filme e embrulhar, de uma vez por todas, a série.
É preciso, antes de mais, questionar a boa vontade com que Kevin Greutert chegou ao set, cheio de ideias para mudar o guião. A uma semana do início das filmagens, a mera noção era quase suicida, especialmente porque os cenários e adereços já estavam construídos e, neste caso, isso representava, no mínimo, onze elaboradas armadilhas. Por terra que estavam os seus sonhos de pegar na sequela do filme caseiro que assustara Steven Spielberg, Greutert devia questionar-se sobre o que poderia trazer de novo ao conceito mais estafado desde que, há seis anos, James Wan inventou Saw. E trazia consigo o estigma de ter gerado menos lucro do que os antecessores.
De Saw 3D, fica a desagradável sensação de ser mais do mesmo. Dividindo os tomos pelos que privilegiaram a ideia de um grupo com hipóteses equilibradas de fuga (especialmente Saw II e Saw V) e os que o transformaram num jogo individual com meros peões humanos (especialmente Saw III e Saw VI), o último capítulo ingressa no descrédito, porque se apresenta como o encerrar de todas as pontas e o esclarecimento de todas as dúvidas e não passa de mais um episódio requentado.
Sean Patrick Flanery, há duas décadas o Jovem Indiana Jonestelevisivo, é o alvo central da história, um escritor de livros de auto-ajuda que diz ter encontrado uma razão para viver ao ter sobrevivido a um teste do Gigsaw. Como vem a saber-se que isto é mentira, a personagem revela-se mal concebida: ficam por explicar as cicatrizes que tem no peito e porque, se é um aproveitador, a polícia não o denunciou como fraude: teria de haver vestígios de onde esteve prisioneiro, um leitor de cassetes com instruções, uma geringonça ameaçadora qualquer. E teria havido uma investigação policial ao sucedido. A brisa da lógica descobre a careca. E não parece admissível que, a haver alguém como este personagem, Gigsaw não o tivesse tratado como prioridade, enquanto ainda era vivo. A necessidade de ressuscitar um irreconhecível Carey Elwes também soa a desespero; ele foi vítima de John Kramer, não de Mark Hoffman, por isso a cena final serve apenas para aplacar os ânimos de quem começava a fartar-se de ver Costas Mandylor como o novo Michael Myers (Halloween).
Saw 3D não vale o preço dos óculos, quanto mais do bilhete. Monocromático, parece ter sido integralmente filmado em tons sépia, deixando pouco á imaginação de texturas ou relevo, sendo também económico em objectos lançados em direcção ao ecrã. É visualmente agressivo, com as armadilhas a serem brutais, mas vazias de emoção. E o facto de serem continuamente fatais retira a expectativa de sobrevivência às seguintes. Já se sabe que esse era omodus operandi de Hoffman, não parar quando a lição está dada mas, se não chega a construir-se o suspense, fica apenas a vulgaridade do torture porn. Sensaborão.
Saw 3D 2010
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