Wednesday, January 26, 2011

The Reef, de Andrew Traucki

Depois de dar turistas a comer a um crocodilo, (Black Water, 2007), o australiano Andrew Traucki decidiu alimentar um tubarão branco. Ainda no catálogo dos casos verídicos de voracidade animal, mantém a simplicidade extrema de atirar quatro pessoas ao mar e esperar para ver qual a ordem por que são comidas. O artifício é o mesmo deOpen Water (2003), outro filme de muito baixo orçamento passado na Grande Barreira de Coral australiana, onde um casal de turistas era esquecido pelo guia a muitos quilómetros de terra e passava longas horas dentro de água, chegando a nadar com tubarões verdadeiros. Agora, os turistas são dois casais e um pendura e o realizador tem mais vontade de dar ao dente.

The Reef tem qualidades e defeitos. Entre os defeitos, encontra-se a falta de profundidade dos personagens, com os quais nos identificamos apenas enquanto vítimas de uma situação adversa e perigosa, na pele de quem não gostaríamos de estar. Apesar de podermos lamentar não ver mais do peixe, isso poderá contar-se entre as qualidades, já que o realizador é capaz de gerar e manter um grau de tensão consistente e sustentado, gerindo com astúcia os fugazes rasgos de barbatana ou mesmo a impressionante captura de imagens que incluem, no mesmo frame, o tubarão e as pernas das vítimas, garantindo, nessa aparente proximidade, o realismo indispensável.

Andrew Traucki tem a seu favor a capacidade, actualmente tão rara, de controlar o factor medo, de forma minimalista, com um sobressalto ocasional a ser suficiente para eriçar os pêlos da nuca. Ajuda, especialmente, a cena em que o tubarão, no cúmulo do seu jogo de gato e de rato, assoma à superfície e passa ao lado do repasto humano, provocando pânico entre as iguarias. Dado o baixo orçamento do projecto e as filmagens divulgadas em tempo real na Internet, queda a dúvida de ter sido usado um exemplar artificial. A alternativa é demasiado perturbadora, e é esse o maior elogio que pode fazer-se a The Reef: despretensioso, simplista e despudorado, explora com sucesso as expectativas do espectador face a um grupo de estranhos, consciente de que este está apenas interessado em arrepiar-se com a presença de um grande tubarão branco. O espécime tem tamanho e estaleca suficientes para provocar reservas e acena aos clientes apenas as vezes estritamente necessárias, semoveracting. Não merece uma ovação de pé, mas cumpre os mínimos exigidos.

The Reef 2010


No comments:

Post a Comment