Wednesday, January 26, 2011

Enterrado Vivo, de Rodrigo Cortés

Não há muito a dizer sobre Enterrado Vivo para além de que é verdadeiramente inovador. Por uma única razão e por tudo o que lhe está subjacente: o protagonista foi enterrado vivo e o filme passa-se integralmente dentro do caixão. Estão de parabéns o realizador Rodrigo Cortés, o actor Ryan Reynolds e o argumentista Chris Sparling, por serem capazes de aguentar a curiosidade, o suspense e a crispação, com balizas tão estreitas.

Sem abandonar o cenário irrespirável do caixão, Enterrado Vivos cria suficientes situações para que os seus 95 minutos de duração nunca se arrastem, o que não é tarefa fácil. Ser enterrado vivo já não é novidade para a Sétima Arte, mas é a primeira vez em que personagem e público permanecem integralmente no mesmo sítio escuro e apertado, sem flashbacks nem cenas de exterior. Georges Sluizer (O Homem Que Queria Saber, de 1988, e A Desaparecida, de 1993) e Quentin Tarantino (Kill Bill Vol. II, de 2004, e último episódio da 5ª temporada de CSI) encontram-se entre aqueles que brincaram com o conceito, mas nenhum deles aí se aguentou o tempo suficiente para ficar sem oxigénio. O espanhol Rodrigo Cortés é homem de outra fibra e Enterrado Vivo, o seu segundo filme (O Concorrente, de 2007, foi o primeiro), é um autêntico tour de force. Com um único actor e iluminação proporcionada apenas por três adereços (um isqueiro, um telemóvel e um tubo de iluminação fluorescente), manteve a claustrofobia e a dúvida até ao fim. Será Paul Conroy realmente um camionista americano a transportar material de ajuda humanitária no Iraque, que sofreu uma emboscada e aguarda salvamento ou resgate?

Ryan Reynolds é um caso de respeito. Ninguém esperava muito do protagonista de Van Wilder: Sempre A Abrir (2002), mas o jovem comediante que acaba de se tornar o Lanterna Verde (2011) tem-se portado como Flash durante toda a carreira. Meteu o pé na acção, com Blade Trinity (2004) e Wolverine (2009), no terror comAmityville Horror (2005) e de resto equilibra a comédia (A Proposta, 2009) e o drama (Adventureland, 2009) o melhor que pode. Em 2007, já aguentara um filme às costas (Nines), mas nada com a dimensão de Enterrado Vivo.

A fazerem companhia ao desorientado, assustado e nervoso prisioneiro, estão algumas vozes para as quais telefona à procura de auxílio. Uma delas é a de Samatnha Mathis, que interpreta a esposa; curiosamente, a actriz foi Barbara Jane Mackle no remake da autobiografia desta, a filha de um milionário enterrada viva em 1968, 83 Minutos Para O Amanhecer (1990). Stephen Tobolowsky é outro actor, que associamos unicamente a papéis odiosos, e aqui não é excepção; até como voz é irritante, num twist implacável que espelha bem o corporativismo norte-americano.

Fica apenas por esclarecer uma questão: se o filme se passa no Iraque, como é que uma chamada efectuada para o número das emergências americano, 911, é atendido pelos serviços do Estado do Ohio? Ele não teria de estar dentro desse Estado, para a linha ser canalizada para lá?

Buried 2010


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