Wednesday, January 26, 2011

Chloe, de Atom Egoyan

Phillipe Blasband teve a ideia, Jacques Fieschi desenvolveu-a, Anne Fontaine realizou e o filme intitulou-se Nathalie, em 2003. Atom Egoyan, em crise criativa, financeira ou ambas, assinou o remake, que Erin Cressilda Wilson, por torpe ineptidão, misturou comAtracção Fatal e A Letra L. A guionista é conhecida pelo irreverenteA Secretária (2002) e pelo serôdio Pêlo: Um Retrato Imaginário de Diane Arbus (2006).

A esporádica nudez ondulante de Amanda Seyfried e a emproada de Julianne Moore tentam salvar Chloe da mediocridade, mas intensificam o mergulho. Os ambientes de cartilha, saídos do manual dos vídeos Playboy são piores do que as versões televisivas de Zalman King, os ângulos de câmara que não sabem se revelam ou ocultam, a iluminação de boudoir, a lingerie, as poses, tudo é tacanho. Quanto ao artifício sobre o qual se edifica todo o mistério, Não é preciso ter visto Nathalie para adivinhá-lo, de tão embaraçosamente previsível. Afinal, as pistas são óbvias e, convenhamos, fazem-se histórias de mistério há centenas de anos, é preciso mais para confundir e iludir uma audiência atenta. O adultério como móbil do crime é chapa mais do que gasta.

O arménio Atom Egoyan já foi responsável por trabalhos bastante interessantes, como Exótica (1994) e O Futuro Radioso (1997), masChloe está entre as suas piores entregas. Em vez de personagens enigmáticas, saem-lhe planas, maçudas, irritantes. A história é simples. Uma mulher suspeita da fidelidade do marido e contrata uma prostituta para se insinuar junto dele, deixando-se enrolar pelas narrativas que esta lhe faz das suas supostas incursões junto do marido dela. Assim rezava Nathalie. Chloe salpica-a de pós sáficos (Anne Fontaine referiu que queria esse ingrediente no seu filme, mas que as actrizes se recusaram) e a prostituta, depois da rejeição, deita-se com o filho adolescente do casal, numa reviravolta vingativa, o prolongamento de uma obsessão sem fundamento, estéril e incoerente. Chloe, que nas linhas iniciais se caracteriza de forma dominante, acaba a descontrolar-se como uma mimada instável. Durante todo o processo, a esposa é neurótica e o marido egocêntrico. O filho deles é de uma desconexão gritante: toca piano clássico, guitarra eléctrica e pertence à equipa de hóquei; manifesta desprezo pela mãe, veneração pelo pai e insegurança em relação ao sexo feminino. E não passa de um personagem secundário sem a menor relevância.

Se o anterior filme de Egoyan, Onde Está A Verdade? (2005), espreitava a homossexualidade masculina, Chloe vira-se para a feminina. Amanda Seyfried já tinha sido beijada por Megan Fox emO Corpo de Jennifer (2005) e Julliane Moore aproveitou para treinar o que viria a ser uma longa relação com Annette Bening em Os Miúdos Estão Bem (2010), mas em Chloe a ligação das duas é meramente oportunista. Comercialmente oportunista.

A esposa de Liam Neeson sofreu, durante as filmagens, um acidente de ski e morreu poucos dias depois. Na ausência do actor, o argumento sofreu alterações condicentes, mas ignoram-se quais. Para melhor, não terão sido. Mesmo quem não tiver percebido que toda a actividade do marido é somente vista através das descrições de Chloe, há-de convir que o desfecho é um cop out. Atracção Fatal(1987) no seu básico.

Chloe 2009


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