Wednesday, January 26, 2011

Monstros, de Gareth Edwards

A contrastar com as vulgares invasões extraterrestres de Hollywood,Monstros revela-se uma incursão inesperadamente diferente, umroadmovie pacífico, melancólico, discreto, que dá primazia ao factor humano e inadvertidamente põe o dedo na ferida da belicosa atitude e mentalidade americanas de disparar primeiro e perguntar depois.

Seis anos depois de uma sonda enviada pela Terra para o espaço ter voltado acompanhada, o território entre o Texas e o México foi interditado ao público por se ter tornado habitat de estranhas criaturas gigantes. Nas vésperas do período de desova destes seres, que ocorre no oceano e assim inviabiliza a passagem marítima entre a América Central e a do Norte, o director de uma revista norte-americana incumbe um dos seus fotógrafos de assegurar-se que a filha regressa ao país em segurança. Este, no México em trabalho, aceita a tarefa com contrariedade. Assim, tem início uma longa viagem de reconhecimento, através do território interdito.

Com um orçamento integral de 500.000 dólares, o inglês Gareth Edwards escreveu, realizou, editou e criou os efeitos visuais deMonstros. A produtora Vertigo Films sugeriu-lhe o actor Scoot McNairy e, como a ligação entre os dois protagonistas era muito importante para que a história funcionasse, contratou também a namorada deste, Whitney Able, pormenor que se articula deliciosamente com algumas passagens do enredo.

Monstros não é uma história de terror, nem sequer de ficção científica, pelo menos no sentido comum. Em muitas paredes mexicanas pode ler-se a questão quem são os monstros, afinal?, e a resposta é concludente: são os humanos que não sabem coexistir com o que é diferente e nem sequer tentam. Poucos minutos de observação de dois extraterrestres é suficiente para compreender que não são agressivos e, se não forem incomodados, nem notam a presença de pessoas. São estas que, com o seu medo natural, tentam contê-los e destruí-los. Por outro lado, é agradável ver um filme onde os heróis se encontram à mercê de mercenários armados (que deverão conduzi-los por território restrito, a troco de dinheiro) e em situação alguma são roubados, ameaçados, agredidos, nem a protagonista é alvo de olhares libidinosos ou mão indesejadas.

Surpreendente pela abordagem pouco habitual e pela condução sensível, Monstros merece um caloroso aplauso. E também porque as condições de filmagem obrigaram ao recurso de soluções de poupança que se provaram imaginativamente viáveis. A equipa consistiu num realizador e respectivo assistente, um técnico de som, só dois actores profissionais (e Whitney Able é estreante) e dois produtores executivos para tratarem da parte financeira. As câmaras digitais são vulgares e todas as noites os cartões de memória eram descarregados online para poderem ser reutilizados. O elaborado guião de Gareth Edwards foi atirado às urtigas pela necessidade do improviso (o orçamento era alérgico a grande parte das cenas) e os efeitos visuais criados num programa vulgar da Apple, que demoraram cinco meses a aplicar, em casa. É uma obra destemida, guerreira, um grito silencioso que ecoa muito mais longe do que poderia antecipar-se. Se os extraterrestres alguma vez nos invadirem, que sejam destes.

Monsters 2010


2 comments:

  1. O argumento pode decepcionar um pouco. Mas se considerarmos a excelente fotografia e a parca experiencia deste realizador, não somos nada, nada defraudados. Disfruta-se de uma excelente obra de imagens, o que não esperava pois pensavamos estar a assistir a mais um filme de aliens. Parabens ao realizador, muitos parabéns. Queremos mais.

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  2. o argumento não decepciona, ele praticamente não existe, o que é diferente. o realizador tinha uma ideia na cabeça e mais nada, o resto foi filmar como calhou e depois fazer a montagem mais coerente possível.

    o filme é muito refrescante, especialmente tendo em conta o skyline (a sequela já teve luz verde) e as insões que vêm aí, a começar pelo Battle: Los Angeles.

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