Friday, May 31, 2013

A Colecção, de Marcus Dunstan

A dupla Marcus Dunstan e Patrick Mellow, argumentistas da segunda metade da saga Saw (IV a VII), regressa com a sequela de O Coleccionador (2009), que também foi escrito por ambos e estreou o primeiro atrás das câmaras. A Colecção (2012) é o nível seguinte do jogo e a continuação do esquema, mas ficou a dois milhões de cobrir o orçamento de dez.
 
Trolha de dia e gatuno à noite, um arrombador de cofres esperava encontrar uma casa vazia, mas cada um dos compartimentos foi armadilhado, os proprietários são alvo de tortura e um indivíduo encapuçado entretém-se a coleccionar. Entre fugir e salvar o dia, acaba por se ver em maus lençóis e a ser capturado, o que implica dar sangue, dor e ser enfiado numa mala de viagem. Uma das mais valias do mediano O Coleccionador consistia no amadorismo dos ardis, que destoavam das engrenagens industriais de Saw e faziam sentido, já que o Coleccionador tinha pouco tempo para montá-las.
 
A Colecção não tem a mesma cautela. Neste campo, aliás, pode dizer-se que é excessivamente over the top. A primeira encenação implica controlar toda a estrutura de um armazém, onde funciona uma rave, através da montagem de uma debulhadora capaz de despedaçar dezenas de incautos, a armação de jaulas suspensas e a colocação de mecanismos verticais de compressão, leia-se esmagamento. Não só levantaria suspeitas a quem tivesse sido contratado para montar, como não teria ficado nada barato. Enfim, uma das características do Coleccionador é deixar uma vítima, viva, da cena do crime anterior na seguinte e ao ladrão de cofres é devolvida a liberdade. Por pouco tempo, já que o novo item de colecção é filha de um milionário, cujo guarda-costas reuniu uma equipa de mercenários para reavê-la e precisa, para localizá-la, da ajuda do sobrevivente.
 
As soluções da história são simplistas e ridículas. Como descobrir o paradeiro do misterioso sequestrador? Nada como o arrombador de cofres ter tido a clareza de espírito de, quando foi raptado, ter feito uns cortes no braço que agora funcionam como mapa. Claro que é preciso esquecer que, por essa ocasião, ele tinha sido torturado, espancado, anestesiado por enfermeiros e ainda a ambulância onde seguia foi abalroada por um furgão e ele enfiado dentro de uma mala de viagem. Aparentemente, o Coleccionador vive num hotel abandonado, que transformou num labirinto armadilhado, e conserva vítimas em aquários com formol, para que finalmente se perceba porque lhe deram aquele título. A anedótica equipa de mercenários está pronta para entrar no universo techno camp. Sair de lá serão outros quinhentos.
 
Josh Stewart é o único actor que retorna (é o arrombador de cofres) e a frágil Emma Fitzpatrick a única actriz para que se olha (independentemente da bela Navi Rawat ter uma aparição de fugida). Com mais dinheiro do que em 2009, a produção contratou Charlie Clouser (compositor de toda a saga Saw) para a banda sonora e mudou de actor para o Coleccionador, o que poderá explicar-se pelo facto de Juan Fernandez (que nunca mostra o rosto no original) ter adicionado ao currículo, em 2012, filmes rodados na Argentina e na República Dominicana; é impossível estar em três sítios em simultâneo.
 
A Colecção é um filme para se ver na desportiva, sem um indício de credibilidade ou uma réstia de suspense ou medo. A seu favor, tem um ritmo imparável, que não dá espaço para pensar. Só no final há oportunidade para rir e compreender que nada era para levar a sério: a alteração da estrutura da discoteca, o mapa feito de cortes num braço, a equipa de resgate composta por otários, a luta de facas e corpo-a-corpo do desfecho, onde um homem com o braço partido (partiu-o para chegar mais facilmente à lingueta da fechadura de uma porta) enfrenta e domina o Coleccionador (que instantes antes derrotara facilmente um mercenário armado com uma faca), ao ponto de derrubar mobiliário em cima deste e de o atirar por uma janela (sim, com um braço partido) e de lhe pegar fogo com um bidão de gasolina e um isqueiro – ao que este reaparece sem queimaduras visíveis nas mãos ou pescoço (nunca se lhe vê o rosto), como a Sónia Brazão …
 

The Collection 2012

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