Friday, June 11, 2010

The Crazies – Desconfia Dos Teus Vizinhos, de Breck Eisner

Enquanto George Romero assassina a sua carreira com filmes que desmerecem o mais inepto dos cineastas (Terra dos Mortos, Diário dos Mortos e Survival Of The Dead), os estúdios tentam reabilitá-lo através de remakes. Em 2004, Zach Snider recriou Dawn Of The Deade agora Breck Eisner encarrega-se de The Crazies (1973).

Breck Eisner é filho do ex-director executivo Michael Eisner. Após alguns anúncios bem sucedidos, entre 2002 e 2003 dirigiu dois telefilmes (O Homem Invisível e Thoughtcrimes) e um episódio deTaken (a série de Steven Spielberg), antes de receber um projecto de peso. Hollywood pretendia capitalizar na obra de Clive Cussler, autor de livros de espionagem que cruzam Tom Clancy com Ian Fleming. Mas, apesar de ter facturado razoavelmente nas bilheteiras, Sahara(2005) ficou a um terço de cobrir os custos exorbitantes de filmar no deserto. O personagem Dirk Pitt não se transformou no novo James Bond e Breck Eisner demorou cinco anos a assinar a película seguinte.

The Crazies – Desconfia Dos Teus Vizinhos é, antes de mais, um filme competente. Eisner tinha, aliás, cumprido o objectivo emSahara, filme que pode não se ter revelado em cifrões, mas não deixou de ser empolgante, garantir a Matthew McConnaughey o título de homem mais atraente do ano e a Penélope Cruz um dos seus visuais mais despreocupadamente sensuais. The Crazies conta com Timothy Oliphant, cada vez mais carismático, e com Radha Mitchell, sempre tão carismática que aqui se desleixou desnecessariamente. Joe Anderson dá um excelente apoio a Oliphant e, quanto a Danielle Panabaker, ou o tronco da sua personagem ficou na sala de montagem ou recebeu um cheque por figuração.

Há três décadas e meia atrás, os filmes de George Romero versavam sobre a impessoalidade capitalista de um governo que, invariavelmente, desvalorizava o cidadão em momentos de crise. Aqui, um produto tóxico no sistema de água canalizada de uma pequena localidade interior provocava a necessidade de conter a epidemia, o que o cinema americano insiste em efectuar à maneira nazi, através da eliminação sumária de todos os contaminados. O encaixe político está mais contido, com o argumento a concentrar-se num reduzido grupo de sobreviventes em fuga da área de contágio e nos perigos que tem de enfrentar. Como em qualquer idílio de Romero, há zombies, mas os piores inimigos são bem humanos. Verifica-se segurança narrativa e lógica nas atitudes individuais e nas dinâmicas de grupo, algo salutar e inesperado no terror recente (auto-catalogação, a todos os títulos incorrecta, de The Crazies como filme de terror). E aqui se faz uma vénia ao argumentista Scott Kosar, que não é um novato a recriar clássicos do género (Massacre no Texas em 2003 e A Maldição de Amityville em 2005).

A torcer-se o nariz, um trio de parolos numa carrinha pick up diverte-se a fazer caça desportiva com os contaminados por alvo, entrando e saindo impunemente do perímetro de contenção; não sendo especialmente discretos, não se entende que as barreiras militares não os tenham interceptado. E, claro, questiona-se este vício dos filmes norte-americanos de matarem a eito pessoas com doenças contagiosas. Quantos inocentes terão sido sumariamente assassinados pelo governo dos EUA durante o surto de Gripe A de 2009?

Uma nota em relação ao estúpido título português, que se apropria do slogan americano do cartaz, mas tradu-lo levianamente: fear thy neighbor significa receia o teu vizinho e não desconfia dele. A tónica do medo é própria de um filme de terror e desconfiar denota apenas insegurança.

The Crazies 2010


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