Friday, June 11, 2010

Caso 39, de Christian Alvart

Associar o nome de René Zelwegger a um filme de terror não é uma boa introdução e, infelizmente, confirmam-se os temores. Nem chega a ser culpa da actriz, que se comporta à altura do pedido, mas da mediania do argumento de Ray Wright e da pouca inventividade da realização de Christian Alvart. Wright já revelara ineptitude ao americanizar a história de horror nipónico Kairo (2001) em Pulse(2006) e manteria o desnorte no guião seguinte, a adpatação de um clássico de George Romero de 1973, Crazies – Desconfia Dos Teus Vizinhos (2010). Quanto ao realizador, nota-se que despachou Caso 39 para poder dedicar mais atenção a Pandorum, o thriller futurista que assinou no mesmo ano (2009).

Caso 39 é uma típica história de criança diabólica com ar angelical. Os pais tentam matá-la, mas ela consegue a protecção de uma funcionária dos serviços socais de apoio à família, convencida de que a menina é vítima de maus tratos. Claro que o tiro vai sair-lhe pela culatra e ela vai perceber que tem entre mãos alguém que abusou da sua confiança e merece, claro está, o destino que os pais tinham para ela. Aparentemente, o factor reintegração termina quando há circunstâncias endiabradas.

O Génio do Mal (The Omen, 1976) é a epítome das crianças malignas, estabelecendo as regras contemporâneas para o sub-género (teve um remake em 2006) inaugurado em 1956 com Bad Seed. Os japoneses deram a sua colherada com miúdas de cabelo liso a tapar a fronha (Ringu / Ring) e os americanos já tinham insistido em 2009 com Órfã, representada por Isabelle Fuhrman, actriz considerada para o papel de menina má de Caso 39, oferecido a Jodelle Ferland, que já tinha sido uma criança maligna em Silent Hill – A Maldição do Vale (2006) e será uma breve vampira no terceiro filme da saga Crepúsculo, Eclipse (2010); no entretanto, fez de Céline Dion para a televisão (Céline, 2008). Ian McShane e Bradley Cooper também marcam presença.

Caso 39 é narrativamente básico, previsível e indistinguível. Não se esforça por ser diferente, antes por atolar-se na banalidade: menina boa revela-se menina má, heroína nota os cadáveres que caem em redor, faz as contas, é encurralada, decide matar menina má. Em total displicência, a actriz nem se preocupa em tentar identificar o demónio que habita no corpo da menina ou salvá-la do demónio. Para todos os efeitos, a menina é um demónio e tem de ser eliminada, ponto final. E, apesar de termos sido ensinado por anos de entretenimento que nem todos os demónios sucumbem ao mesmo antídoto, a heroína opta pelo fogo, apenas porque sim. Sem a menor certeza de o fogo o matar juntamente com a hospedeira.

O facilitismo de Caso 39 é entediante. Se a menina já nasceu possuída (o pai pergunta à assistente social se imagina o que é viver com a filha durante 12 anos, levando a crer que esta é assassina desde berço), porque é que só ao fim desse tempo os pais decidiram matá-la? Dizem que ela dorme pouco e só podem matá-la quando dorme. Porquê? Ela não ofereceu mais resistência depois de acordar. E, se era tão raro a menina dormir e não havia um minuto a perder, porque não matá-la logo na cama, com uma machadada ou um tiro, em vez de a arrastarem escadas abaixo até à cozinha, para a meterem dentro do forno? Se queriam queimar o corpo, podiam incinerar o cadáver. Enfim, por vezes, uma criança irritante não passa de uma criança irritante. Vá lá, o filme marca um pontito por não ter um final a preparar uma sequela.

Case 39 2009


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