Friday, June 11, 2010

O Quarto Grau, de Olatunde Osunsanmi

Depois de Steven Spielberg ter fantasiado sobre Encontros Imediatos de Terceiro Grau, em 1977, finalmente chega o grau seguinte. Na verdade, esse grau não era sequer novidade quando a série Ficheiros Secretos, ao longo dos anos 90, fez dele o seu tema preferido: o rapto de humanos por extraterrestres, com vista aos primeiros serem objecto de experiências científicas. Ainda ninguém encontrou explicação científica é para o facto de os extraterrestres, depois de décadas a dissecarem humanos, ainda não se terem cansado de nós.

O primeiro caso mediático deste fenómeno data de 1961 e foi transformado em livro (Viagem Interrompida, 1966) e telefilme (The UFO Incident, 1975). Betty e Barney Hill, de férias por uma estrada secundária, viram-se surpreendidos por um OVNI, onde foram submetidos a exames médicos, com especial incidência nos órgãos sexuais e reprodutivos, cujos pormenores só foram aflorados três anos mais tarde, através de hipnotismo. A comunidade científica concluiu pela alucinação do casal, mas o mundo do entretenimento não mais parou de especular. Os Hill foram novamente mencionados nas séries Dark Skies (1996) e Taken (2002).

Não é de espantar que em 1957 já tivesse sido relatado um caso semelhante no Brasil (o do agricultor Antonio Villas Boas). O escritor norte-americano Charles Fort, em 1923 (no livro Novas Terras), já avançava a probabilidade dos extraterrestres raptarem humanos para estudo da espécie. Sem falar do controverso incidente da queda de um OVNI em Roswell, Novo México, em 1947, que despoletou as mais variadas teorias de conspiração.

O Quarto Grau, escrito e realizado por Olatunde Osunsanmi, vai beber a este historial, sem o mencionar directamente. Inicialmente, o enredo parece interessante, conduzido como história de fantasmas. Diversas pessoas em Nome, no Alasca, recorrem à mesma psicóloga para ultrapassarem os pesadelos, dos quais apenas recordam a presença de uma coruja. Através de hipnose, ela descobre algo de muito mais sombrio.

A premissa, contudo, derrapa nas limitações do conteúdo e perde credibilidade pela técnica rebuscada, derivada da fusão de métodos utilizados. Insinua basear-se em factos reais, a corroborar por gravações ditas fidedignas, retiradas dos arquivos da psicóloga, que filmou as sessões com os seus pacientes. Só que a burla não é facilitada pela excessiva teatralidade das reconstituições, por vezes a partilhar o ecrã com as ditas gravações (lições mal aprendidas do método split screen de Brian DePalma?).

O defeito de O Quarto Grau é não ser convincente. Vale pela vestimenta nova dada à produção, uma discreta fusão da câmara subjectiva (Actividade Paranormal, 2007) com dramatização pseudo-documental, mas a piada saiu-lhe pela culatra. Perde-se no sensacionalismo, mas esquece-se do básico: não há desconforto ou medo, apenas confusão e desajuste. Milla Jovovich dá o seu melhor, mas a sua escola é Resident Evil; partilha a personagem com Charlotte Milchard, a actriz que interpreta a psicóloga nas «gravações fidedignas» (pendente de revelação oficial). Will Patton e Elias Koteas também por lá andam.

Por determinar permanece se Olatunde Osunsanmi entende o conceito de originalidade. É que em 2005, o seu filme de estreia (Within/A Caverna) plagiava deploravelmente A Descida, do mesmo ano, adicionando-lhe uma pitada de Eegah (1962), o que não foi bom sinal. Com O Quarto Grau, mistura Projecto Blair Witch (1999) comreality TV (nomeadamente Cops e Cheaters).

The Fourth Kind 2009

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