Seis meses depois de sobreviver a uma colisão frontal com um camião, da qual resultou a morte do pai, um jovem continua paralisado e irresponsivo e é a mãe quem cuida dele, passando a trabalhar de casa no conveniente trabalho como psicóloga. Das entranhas da habitação com acesso ao lago ouvem-se ruídos abafados e a mãe tem constantes sonhos e alucinações. A primeira ideia que vem à cabeça é de que se trata de mais uma variação de Patrick (1978), filme sobre um comatoso com poderes telequinéticos, capaz de alterar a percepção daqueles que o rodeiam e de provocar danos físicos sem se mover. A referência é obscura, mas Patrick teve uma sequela (Patrick Still Lives, 1980) e um remake (2013), pelo que o reaproveitamento da ideia básica não seria descartável. Shut In revela-se uma coisa diferente, porém, e muito pior. Mesmo muito pior.
Naomi Watts e Oliver Platt fazem pela vida, Jacob Tremblay volta a ser fechado numa casa depois do mais interessante Room (2015) e Charlie Heath é introduced, apesar de não ser estreante. Estreante é Christina Hodson como argumentista, que, independentemente desta triste apresentação, rapidamente trepou a escada do sucesso, assinando sozinha Bumblebee (2018) e Birds of Prey (2020). Farren Blackburn é um realizador tarefeiro com uma longa carreira televisiva e apenas uma longa-metragem no currículo (Hammer of the Gods, 2013).
De todas as coisas que fazem rolar os olhos neste filme, a mais articulada é o título. Desde o início, fica a impressão de que shut in (“preso dentro”) se refere ao isolamento a que se votou a mãe para cuidar do filho acamado, depois que se trata do isolamento da casa por causa de um nevão, mais tarde descobre-se que há uma criança escondida dentro da casa e, na recta final, o filho anda a pregar as janelas e portas para impedir que a mãe e o menino escondido fujam. Portanto, muitos exemplos sucessivos de shut in. Mas este apontamento é irrelevante face aos pormenores de péssima escrita que nos são enfiados garganta abaixo. Quando percebemos que o filho irresponsivo estava, afinal, a fingir uma existência comatosa durante seis meses, colocam-se, obviamente, demasiadas questões. Não só como é que enganou os médicos que assistiram à sua recuperação no hospital como a mãe, que teria de alimentá-lo, lavá-lo, ajudá-lo a fazer as necessidades fisiológicas e movê-lo da cama para a cadeira e vice-versa todos os dias. Até quando a mãe, num assomo de desespero, decidiu afogar o filho na banheira, durante o banho, este não reagiu.
O vilão acaba por ser, assim, um adolescente magrinho e que passou uma longa temporada deitado, apenas se levantando às escondidas, que é joelhado nas virilhas (algo que o sound design fez soar como um soco na cara num filme de artes marciais de Hong Kong) e agredido com uma frigideira mas continua a levantar-se como se fosse o Michael Myers. Quando o filho se põe a pregar as janelas e portas, a mãe comporta-se como se estivesse presa no interior da casa, sem ter como sair, quando todas as referidas janelas e até a porta da rua têm vidros. Enfim, uma fita série B que vive de um único twist que não sabe gerir.
Shut In 2016
No comments:
Post a Comment