Tuesday, May 14, 2019

Ghost Stories, de Jeremy Dyson e Andy Nyman

Andy Nyman e Jeremy Dyson escreveram a peça de teatro (em 2010) tendo em conta o potencial de uma transposição para cinema e, dizem, resistiram a ofertas financeiramente leves de venderem o guião a Hollywood, já que a sua vontade era a de controlarem o produto final e Andy Newman queria continuar como protagonista no filme. E, se era para fazerem pouco dinheiro, como é apanágio das fitas de baixo orçamento, que tivessem a fama e o proveito.

Dizem-se inspirados pelas histórias de fantasmas de M.R. James, escritor britânico do século XIX que se dedicou ao género mas, pela minha experiência com um volume completo dos contos deste autor, o que sempre me desiludiu nele foi a incapacidade de, apesar dos promissores inícios, não ter desfechos satisfatórios. Por exemplo, iniciar um conto com a premissa de, da janela do seu quarto, ver uma criatura descer pela fachada da torre em frente, aderindo à parede com pés e mãos, e entrar por uma janela; o narrador junta um grupo de amigos e invadem a divisão por onde teria entrado a criatura mas, para sua desilusão, não encontram nada no seu interior; e assim termina a narrativa.

Ghost Stories tem uma trama simplória e desprovida de originalidade ou garra. Segue um indivíduo que se apresenta como responsável por um programa televisivo onde desmascara impostores do sobrenatural e recebe do seu mentor a missão de tirar a limpo o truque por trás dos três casos que não conseguiu resolver. O homem, que trabalha sozinho e sem uma câmara de filmar, apesar do seu programa ser de um conhecido meio audiovisual, decide investigar os processos, sendo que essa investigação se limita exclusivamente a ouvir uma testemunha por processo e nem sequer se desloca aos locais das aparições: no caso de um fantasma que aparece numa fábrica, entrevista a testemunha num pub; no caso de um atropelamento numa estrada num bosque, entrevista em casa da testemunha; no caso de uma casa assombrada, entrevista num monte ao ar livre. Esta indigência narrativa resulta, porventura, de, na peça teatral, não ser um investigador mas um professor de parapsicologia a conduzir uma palestra onde apresenta casos antigos, situação em que um homem só seria suficiente e o local indiferente. O final, que aglutina os vários contos colocando os seus narradores na esfera do protagonista, lembra os antigos Contos do Imprevisto, mas de então para cá o recurso está mais do que estafado. O filme é uma embaraçosa e aborrecida desilusão que conta com Martin Freeman, Alex Lauther (o miúdo da série The End of the F***ing World) e Paul Whitehouse.

Ghost Stories 2017

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