Tuesday, March 3, 2015

Open Windows, de Nacho Vigalondo

Se Grand Piano (2013) é uma clara homenagem a Alfred Hitchcock, Open Windows (2014) inspira-se no seu discípulo Brian DePalma, especificamente em Body Double (1984). Um ingénuo é colocado na posição de mirone de um orquestrado acto sexual, através da sua janela, o qual poderá incluir homicídio. Reviravoltas mais tarde, o guião aproxima-se do de Nick of Time (1995), onde um ingénuo é coagido a assassinar um terceiro num evento controlado ao milímetro. Regressa a Body Double, com uma agressão mascarada na cama, faz uma curva para The Call – Chamada de Emergência (2013), com a vítima na bagageira a ser auxiliada através de um telefonema, outra para colar-se a Untraceable (2008), onde o número de utilizadores de internet a logarem-se a um site pode influenciar o desfecho de um crime e, por fim, I, Robot (2007) na maior desfaçatez possível.
O tributo a DePalma não está apenas relacionado com parte significativa da narrativa, mas igualmente pela apetência desse realizador em recorrer à tecnologia visual mais recente para distorcer, dividir e multifacetar a realidade (característica marcante em Carrie, de 1976, Snake Eyes, de 1998, e Mulher Fatal, de 2002). No caso de Open Windows, o recurso é feito, como o nome indica, através de um computador portátil com inúmeras janelas abertas, no mundo digital capazes de controlar câmaras, telemóveis, satélites e videoconferências. A confusão do protagonista é seguida através destas janelas, com que tem de lidar para perceber o imbróglio em que está, inadvertidamente, envolvido e para poder salvar a sua estrela de cinema favorita, que poderá ser vítima de um delito incapacitante se ele não for mais esperto do que o mastermind por trás do jogo de gato-e-de-rato a que foi sujeito.
Elijah Wood conclui aqui o que poderá designar-se como a sua trilogia thriller (Maníaco, Grand Piano e Open Windows), realizados por um francês e dois espanhóis, aqui o caso de Nacho Vigalondo, curiosamente o realizador de Os Cronocrimes (2007), para o qual Eugenio Mira (realizador de Grand Piano) contribuiu como compositor, sob o pseudónimo Chucky Namanera. O filme foi filmado com web cams em tempo real, para aumentar o seu realismo, presumindo-se duvidosamente que tenha sido rodado em apenas 100 minutos. Ainda que o conceito seja curioso, o facto de remeter a memória do cinéfilo para demasiados filmes anteriores elimina a originalidade, que o realizador julgaria garantir pelo recurso à tecnologia nas vertentes hacker, cyberstalking e cyberbullying. O desfecho da história, no meio de tantas pontas soltas, é tão descuidado que a desilusão é forçosamente inevitável. Cabe ainda referir Sasha Grey, a actriz pornográfica que Steven Soderbergh trouxe para o mainstream com The Girlfriend Experience (2009), aqui no papel com mais frases da sua carreira, ela que tem tido o nome associado a projectos de diminuta permanência, caso de Scribbler (2014), onde tem apenas uma frase antes de ser atirada do telhado de um prédio. Aqui, não merece tal destino e prova que é possível dar a volta por cima, leiam o seu romance erótico The Juliette Society, publicado em 2013, se não tiverem a certeza.
Open Windows 2014

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