No ano em que a trilogia [Rec] se cansou de andar com a câmara aos abanões, V/H/S achou que esta, em retrospectiva, ainda tinha futuro. Imagem granulada, interferências de movimento, riscos de impurezas, ecrã azul de falta de sinal e cortes sumários e abruptos é o que não falta a este pedaço de pseudo nostalgia, que encontra a sua raiz em The Poughkeepsie Tapes (2007), ainda que o produtor Brad Miska (do site Bloody Disgusting) reflicta apenas no conceito de found footage e de colectânea de terror.
Ora bem, quem chegar a esta fita (literalmente) sem conhecimento prévio, terá alguma dificuldade em entender o que eventualmente se vai tornando claro. V/H/S é uma salgalhada sem fio condutor e com cozinheiros a mais para acertarem nos condimentos. Trata-se de um conjunto de cinco curtas-metragens, cada uma com o seu realizador, trama e equipa individuais, desconexos entre si, interligados por um arco que está lá só para encher chouriços.
O artifício do vídeo amador teve a sua génese no pouco conhecido O Último Registo (1998) e o apogeu em Blair Witch Project (1999), continuando a ter aftershocks mais de dez anos depois. Tudo pela baratucha ilusão de realismo que até já foi à lua (Apollo 18, 2011) e voou com Super-heróis (Chronicle, 2012). É uma técnica estafada, mas Actividade Paranormal segue para o quinto tomo, pelo que, aparentemente, veio para ficar. V/H/S, porém, não passa de uma nota de rodapé do género, tanto mais que nem sequer é fiel ao conceito interno: o obsoleto formato VHS implicava ecrã quadrado e não era compatível com óculos de espião (com tanta mobilidade por parte dos personagens dos segmentos Amateur Night e 10/31/98 é de questionar qual o suporte capaz de gravar nessas condições). Há até um capítulo cujo veículo exclusivo é o skype via webcam, que também não é VHS.
Como foi referido, V/H/S é composto por seis curtas independentes, de qualidade irregular entre o mediano e o péssimo. Salientam-se os segmentos Amateur Night, de David Bruckner (um dos realizadores do fantástico tríptico The Signal) e The Sick Thing That Happened to Emily, de Joel Swanberg (You’re Next); e as respectivas actrizes Hannah Rose Fierman (a succubus) e Helen Rogers (a abductee), ambas a ostentarem fugazmente os seus atributos complementares à representação. No todo, V/H/S peca por não cumprir o seu objectivo: não assusta.
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