Thursday, November 8, 2012

The Suicide Club, de Shion Sono


Suicídio ou homicídio, parece ser a questão que se coloca depois de cinquenta e quatro liceais se lançarem de mãos dadas à linha do comboio, a tempo de espalharem sangue e órgãos por quem ficou na plataforma. O mistério adensa-se consoante a população cai como moscas, aparentemente influenciada pelo sucedido na estação de Tóquio, ou manipulada pelo mesmo responsável. Sacos Sport Billy com rolos de pele humana, cosidos em pequenos rectângulos, são deixados nos locais. Um site da Internet configura cinquenta e quatro bolinhas vermelhas. Uma voz de criança, constipada, pergunta ao telefone se o interlocutor se sente em contacto consigo próprio.
Escrito e realizado pelo controverso poeta e artista plástico Shion Sono, Clube Suicida tem de ser enquadrado na ambiguidade de uma instalação artística, apenas parcialmente interessada numa narrativa linear. Assim se compreenderá que as pistas, por mais intrigantes que sejam, não tenham o propósito de fazer avançar a acção, mas atrasá-la. A projecção parece, inclusivamente, perder o rumo, ao cabo de uma hora, esticando-se num medley onírico onde ninguém está a salvo da loucura suicida. Para além de eliminar o suposto protagonista ainda no adro, o final sabe pouco a desfecho. Fica por negar a capacidade de Shion Sono em criar uma atmosfera incomodativa e delinear um mistério coeso.
Spoiler interpretativo: Há quem encontre a resolução do enigma no conto do flautista de Hamelin (Pied Paper), mencionado de passagem por um polícia que o compara à televisão, e assiste-se ao obsessivo bombardeio de excertos de uma canção de sucesso, dirigida ao público escolar, que funcionaria como a melodia de lavagem cerebral, através da qual o flautista conduziu as crianças de Hamelin até ao abismo, de onde se lançaram: a estação de comboios. Fica por deslindar se o realizador japonês terá adaptado o conto germânico, confundindo a audiência com pistas falsas, já que os rectângulos de pele que o misterioso adulto encapuçado arranca às omoplatas das crianças com uma plaina ficam por explicar, assim como a sua motivação, mas a metáfora é sã: a obsessão pelos media leva a nova geração ao abismo e só se salvará quem se lhe provar imune (estar em contacto consigo próprio), os outros estão a desperdiçar a sua vida e, como tal, não merecem vivê-la (sucedendo-lhes a morte através da instigação ao suicídio).
Jisatsu sâkuru 2001

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