Wednesday, November 10, 2010

Road Games, de Richard Franklyn

Das estepes de interminável terra seca que Mad Max (1979) incendiou, a característica mais marcante é o tédio. Que o diga Quid, um camionista com falta de sono e a atravessar o país com uma carga de carcassas de porco refrigeradas, que junta diversas pistas fáceis e decide perseguir um serial killer. Num filme em que pouco de interessante ocorre, o maior tempo de antena é ocupado por Stacy Keach, que o interpreta, a falar sozinho ou com o seu dingo. Jamie Lee Curtis junta-se-lhe para apimentar o cenário, mas o seu ar de menina direitinha funciona no sentido oposto.

Depois do bem sucedido Patrick (1978), sobre um paciente comatoso com poderes telequinéticos, e antes de ser convidado a realizar Psico II, Richard Franklyn entregou ao argumentista Everett DeRoche o argumento de Janela Indiscreta (1954), de Alfred Hitchcock, com a incumbência de adequá-la à realidade australiana. O guião de Roche (Razorback, 1984) cumpre os requisitos do realizador, que se terá esquecido de pedir-lhe uma dose de senso comum. A história passa-se numa viagem em linha recta, mas insiste em repetir os mesmo viajantes, sem que se perceba como é que continuam a cruzar-se. Isto causa alguma desconfiança em relação ao desfecho, que se confirma desanimador.

Camião contra furgoneta. Dez anos depois do camião assassino de Steven Spielberg (Duel, 1971), é agora o herói quem transporta o TIR, cuja potência faz a diferença apenas na sequência final, por entre ruelas apertadas mas pouco claustrofóbicas. Aliás, se há alguma característica que falta em Road Games é estrangulamento, trocadilho que engloba a técnica assassina do seu serial killer (amise-en-scéne do único homicídio onscreen é tão irrealista como nos filmes do período giallo, com o assassino a sair de da casa de banho envolto em nevoeiro, com luvas de condutor, e a passar um fio de nylon pela frente dos olhos da sua vítima, uma jovem nua a toca viola na cama, que não reage enquanto o laço que irá enforcá-la lhe passa lentamente pela cabeça até fechar-se-lhe no pescoço) e sintetiza a falta de suspense reinante. Ou seja, apesar de haver uma ou outra cena interessante, estas parecem oásis no meio da agonia do deserto. Os monólogos da treta do protagonista são, em larga escala, culpados, mas a ineficácia da realização é ainda mais responsável.

Um filme para fãs de Stacy Keach, o actor que ficou conhecido pela recorrente interpretação do detective televisivo Mike Hammer, obra da pena do best seller Mickey Spillane. Antes das temporadas deMike Hammer (1984-1987), Mike Hammer Detective Privado (1997-1998) e de quatro telefilmes com o mesmo personagem, Keach tinha protagonizado Cidade Viscosa (1972), para John Houston, ao lado do estreante Jeff Bridges. Jamie Lee Curtis, o outro nome de cartaz, é filha de Tony Curtis de Janet Leigh (a Marion Crane de Psico, de Hitchcock), que Richard Franklyn conheceu quando visitou o amigo John Carpenter durante a rodagem de Halloween (1978).

Road Games retira o seu título de uma espécie de jogo do gato e do rato que se estabelece entre o assassino e o herói, mas peca pelo fraco controlo do suspense por parte do realizador, o que, basicamente, inquina um filme que teria de viver disso.

Road Games 1981


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