Tuesday, November 24, 2009

A Última Casa À Esquerda, de Dennis Lliadis


É na antítese que pode comparar-se o remake de A Última Casa À Esquerda, que recupera um dos mais ineptos filmes de culto de terror dos anos 70. Porta-estandarte de mau gosto e incompetência cénica, a estreia de Wes Craven em 1972 cimentou-se à custa de muita publicidade e pelo facto de encontrar o público desprevenido.

História de sadismo bacoco, supostamente baseada na mesma canção sueca do século XIII que inspirou A Fonte da Virgem, de Ingmar Bergman (1960), A Última Casa À Esquerda tinha como mero mecanismo o choque, mas nem disso sabia tirar partido. Ao contrário da óptica do «são sádicos e está explicado» de Craven, Dennis Lliadis, realizador do remake, acerta com sensibilidade e segurança o peso e leveza a dar a cada momento, sentindo o pulso às emoções do espectador com a precisão de um técnico de som, sempre atento aos picos de volume. Ao choque, juntou melancolia, porque sabe que estamos a assistir a duas mulheres serem violadas e mortas e nada podemos fazer para evitá-lo; contornando o voyeurismo, Lliadis capitaliza na impotência da assistência e na sua sede de retribuição.

Através do esforço consciente e da dedicação aos mais ínfimos pormenores, a sua versão assenta num relato de coragem e sobrevivência, contrariando o determinismo dos cânones clássicos do horror adolescente, dos quais se retira que, por mais inocente, quem se mete na boca do lobo tem de punido pela prevaricação. Aliás, já oremake de Massacre no Texas (2003) premiara Jessica Biel pela sua resistência à ameaça canibal.

Impressionante pela intensidade na condução do suspense, o filme tropeça na execução do showdown climático. A querer evitar o facilitismo, torna-se pouco confiante nas reviravoltas e encerra o episódio com o bizarro de uma cabeça humana a explodir num microondas. Com todo um filme pautado pela credibilidade e pelo realismo, esta cena fica a abanar ao vento, deslocada do resto.

Quanto ao elenco, Garrett Dillahunt (O Assassínio de Jesse James Pelo Cobarde Robert Ford, 2007, e papeis recorrentes nas sériesDeadwood, Os 4400 e Terminator: As Crónicas de Sarah Connor) é o maior trunfo. Aqui no papel de Krug, o líder do clã sociopata, Dillahunt sabe tirar partido da sua postura e, especialmente, do olhar; ele não é puramente mau, mas cauteloso e calculista. A sua maior preocupação é a liberdade e o anonimato, os eventos é que se precipitam e não é capaz de evitar a fúria. Os restantes estão bem, sem especial destaque. As maminhas de Riki Lindhome são a excepção.

O título é que continua por entender, visto que o próprio proprietário indica que a casa mais próxima fica a seis milhas de distância. Portanto, última casa à esquerda de quê?

Last House On The Left 2009

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