Tuesday, November 24, 2009

Vigilância, de Jennifer Chambers Lynch


Desde 1993 que Jennifer Chambers Lynch não arriscava sentar-se atrás das câmaras. Três anos antes, o pai, David Lynch, tinha-lhe dado o rebuçado de escrever O Diário Secreto de Laura Palmer, publicado para capitalizar no sucesso da série televisiva Twin Peaks, e Jennifer tratou o projecto como um trabalho de casa, porque lhe diziam que sabia juntar frases. Boxing Helena – Paixão Selvagem(1993) foi a sua estreia na realização e no guião, mas o falhanço foi tal que só década e meia depois se viu confiante o suficiente para tentar novamente.

Vigilância é um filme independente, com poucos cenários e um restrito grupo de personagens, construído como uma dança entre duas cenas, causa e consequência, que se digladiam através de um interrogatório e respectivos flashbacks. Para assegurar a integridade do jogo, foram escolhidos dois actores que se mostraram tudo menos naturais: Bill Pulman e Julia Ormond, com Michael Ironside em apoio secundário. Há uma razão para estas interpretações afectadas, mas nem por isso estas satisfazem ou convencem. A história, curiosa para ser simpático, estica demasiado a credibilidade, ficando na dúvida se chegou a partir, o que dependerá do grau de resistência do espectador.

Inicialmente, há uma certa sensação de regresso a Twin Peaks, território familiar ao clã Lynch, com um par de agentes do FBI a entrarem numa esquadra local para questionarem as testemunhas de um homicídio em série (as vítimas ascendem a seis) e, sem excepção, todos se comportam de forma histriónica. Mas rapidamente a estranheza passa a saturação, devido a um ritmo lento que antecipa os twists muito antes de serem revelados, porque a comédia negra se gasta no vazio e o sadismo em seco provoca enfado.

Apesar do ditado popular, Jennifer Chambers Lynch apenas deixa provado que filha de peixe... molha-se. A desistência do actor Billy Burke a dias do início das filmagens (preferiu ser pai de Bella na sagaCrepúsculo) fez chamar Bill Pulman, amigo da família, escolha inglória pelas caretas deslocadas que produz constantemente e por ser doze anos mais velho do que Julia Ormond (Burke é praticamente da idade dela). French Stewart (da sitcom 3º Calhau A Contar do Sol) foi outro tiro no pé. Apesar de manter algumas interrogações ao longo do filme, o fio que sustém o interesse é demasiado ténue para aguentar tanta monotonia. Apesar de tudo, há mérito nas opções de fotografia de Peter Wunstorf.

Surveillance 2008

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