Tuesday, September 17, 2013

Stoker, de Chan-wook Park

Em ano de remake de Oldboy (2003), o realizador do original é libertado em Hollywood, mas deixa-se enredar pela sua superficialidade. Surreal e improvável, Stoker (2013) é um filme perdido no formalismo. Nas imagens que acompanha ou captura, nos sons que exacerbam o movimento ou a interrupção, na sensação que provoca o enquadramento de um plano. É um óptimo sítio para começar mas, eventualmente, deveria passar para o plano secundário e permitir à narrativa descolar. Stoker, porém, é mais observação do que deslocação.
Inicialmente sob o pseudónimo Ted Faulke, o guião é obra de Wentworth Miller, o protagonista de Prison Break (2005-2009), escrito entre a fuga da prisão e a participação em Resident Evil: Afterlife (2010). Como inspiração e ponto de partida, apresenta Shadow of a Doubt, de Hitchcock, de que o Sul-coreano Chan-wook Park terá gostado, justificando este projecto como o seu primeiro salto americano pelo tom negro mas sossegado, que lhe permitia colocar inúmeros toques pessoais. Até à data, Park aliava a escrita à realização: Oldboy (2003), Sympathy For Mr Vengeance (2002), Mrs Vengeance (2005), I’m A Cyborg But That’s OK (2006) e Thirst (2009). O título não é um trocadilho com o nome do autor de Drácula.
 
Quando as rodas da narrativa finalmente avançam, surpreendendo quem se perdera no slideshow de diapositivos, o percurso centra-se numa família disfuncional e idiossincrática, num momento simultaneamente de perda e reencontro, e assenta as suas estruturas no desabrochar e amamentação do espírito psicótico. O instante em que a mente quebra ou, mais propriamente, se completa, entendendo que aquilo que lhe faltava para estar inteira era provocar, ou assistir, à morte de outrem, é uma experiência enriquecedora, do ponto de vista cénico, ocorrendo entre um cinto no bosque e um duche masturbado, mas Stoker está, infelizmente, infestado de enguiços, com situações muito mal resolvidas, especialmente aquelas passadas em território escolar, autênticas pedras no sapato de um realizador proveniente de uma realidade diferente da retratada, e aquelas onde a morte é manifestada como materialização e não como mera presença. É, no seu todo, uma obra vazia, estéril, um mistério que exige certos passos para ser credível, mas onde as circunstâncias são manipuladas de modo a obtê-la, o que lhes retira naturalidade e remete para um campo teatral, com embrulho e laçarote, sem a intensidade com que deveria ser vivida.  
Tão adequada é a atmosfericamente negra partitura de Clint Mansell (a substituir um Philip Glass demissionário) como a prestação do elenco (Mia Wasikowska, Nicole Kidman e Matthew Goode), ainda que o papel de Tio Charlie tivesse servido como uma luva a Colin Firth, o primeiro contratado, antes de chegar a Matthew Goode, aquele que Wentworth Miller envisionara ao escrever. Em conclusão, Stoker é um híbrido, uma mistura de géneros e proveniências, que peca por falta de equilíbrio, no seu esforço consciente por causar estranheza, mas encanta o suficiente com a sua imagética eclética e intriga policial.
Stoker 2013

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