Thursday, November 8, 2012

Noriko’s Dinner Table, de Sion Sono


Alienada da família e da pequena localidade onde habitou os primeiros dezassete anos da sua vida, a introvertida Noriko foge para Tóquio, onde habitam as amigas que mantém através de um fórum de Internet. Lá conhece Kumiko ao vivo e entra no estranho negócio de roleplaying de que esta faz parte, num universo relacionado com o Clube Suicida, longa-metragem anterior do realizador (2001).
A Mesa de Jantar de Noriko é uma obra metafísica, transcendental, bizarra e onírica, centrada em personagens ambivalentes, perdidas e desnorteadas, alvos fáceis para o processo de lavagem cerebral que a sua inadaptação à realidade facilita e os media propiciam.
Depois do metafórico Clube Suicida dar rios de tinta em interpretações, o realizador sentou-se à secretária e escreveu Círculo Suicida: Edição Completa, um livro narrado por diversos personagens, em primeira pessoa, e que conta, de forma não linear, eventos anteriores, posteriores e passados durante o suicídio de cinquenta e quatro liceais que dá início à trama de Clube Suicida (2001). Esse livro daria origem ao filme A Mesa de Jantar de Noriko, onde, uma vez mais, o tema é o generation gap entre pais e filhos na sociedade japonesa actual, vazio que os jovens preenchem com o recurso aos media, seja através da televisão, música ou Internet, desligando-se assim de si próprios (adoptando nicknames) e dos seus (fugindo de casa). Estas famílias disfuncionais e as dos gatos vadios (expressão com significado interno) são, então, cortadas e fatiadas como sushi ou salmão e servidas à mesa em formato filme de terror.
A Mesa de Jantar de Noriko não é de digestão fácil. Bizarro na concretização do seu simbolismo, a mistura de realidade e fantasia embarga a percepção do espectador, pela inconstância do fio de terra, e a sua extensão (159 minutos) é excessiva. Sente-se, também a ingerência de saltos no tempo, como se o autor não se preocupasse em como passar de um ponto a outro, optando por ignorar acontecimentos intermédios em que não quis pensar.
Estruturalmente disposto por capítulos, como no livro que lhe deu origem, o filme demora a cativar, assentando pesadamente na narração analéptica, as imagens a funcionarem como gravuras da voz off e as pontas deixadas soltas por Clube Suicida não são atadas: o objectivo do suicídio em massa das cinquenta e quatro estudantes e a fonte do site de Internet com as cinquenta e quatro bolas vermelhas permanecem inexplicados. A tratar-se de uma acção concertada da Organização que se financiava coma a actividade de roleplaying, foi, no mínimo, um despedimento colectivo. Mas, não se tratando de uma sequela directa, importa dizer que o tratamento da trama central atinge graus de elevado suspense e satisfaz plenamente, ainda que entre pelo campo do surrealismo e tenha dificuldades em regressar, resvalando e chiando em mais do que uma ocasião.  
De notar que 2005 foi um ano cheio para o realizador, que também completou Into A Dream e Strange Circus. O primeiro foi mais tarde desenvolvido em livro e, no segundo, reuniu as qualidades de realizador, argumentista, compositor e director de fotografia. Mais recentemente, desenvolveu a trilogia do ódio: Love Exposure (2008), Cold Fish (2010) e Guilty of Romance (2011).
Noriko No Shokutaku, 2005

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