Saturday, October 1, 2011

Desabitado, de Bill Bennett

Um casal propõe-se passar dez dias numa paradisíaca ilha deserta dos recifes australianos, mas não conta com a presença de um fantasma. Para um realizador com 17 títulos no currículo, Bill Bennettmais parece estrear-se com Desabitado, porque se associa um primeiro trabalho a algo tosco, porventura promissor, mas longe de ser um objecto acabado. Desabitado não é promissor.

Tirando a esguia presença da agradável Geraldine Hakewill, nem as paisagens naturais compensam o argumento preguiçoso e estéril, que acaba por definir-se por uma cabana no meio da ilha, onde repousa um livro que conta a história de uma indígena que foi violada por sete brancos, na década de 1920, que leva o fantasma da vítima a vingar-se em todos os homens que chegam à ilha. Como é uma ilha minúscula perdida no oceano, a fantasma já deve estar destreinada das artes da vingança, porque leva vários dias a fazer o que afinal não demora mais do que alguns minutos, que é apunhalar o turista. Durante esses dias intermédios, limita-se a remexer a bagagem do casal recém-chegado e a cirandar à sua volta, deixando na areia pegadas que se perdem no vazio, emitindo de longe ruídos próximos do choro de uma criança.

Por explicar fica como é que a fantasma sabe reconhecer e identificar um telemóvel, tecnologia inventada mais de meio século depois da sua morte, ou manuseia com facilidade uma câmara de vídeo de bolso, adivinhando por impulso o significado de botões como rec e zoom. Antes de atribuir a culpa dos insólitos à fantasma, o casal protagonista convence-se de que é tudo acto de crianças (as pegadas encontradas são pequenas), apesar de terem viajado para aquela ilha de veleiro e não haver nenhum sinal de humanos em redor… terão imaginado que essas crianças viveriam sozinhas, como no livro O Senhor das Moscas, ou que eram nadadores olímpicos, capazes de atravessar longos braços de mar entre ilhas distantes? A meio do filme, o casal é atacado por um par de marinheiros que falam uma língua do leste, amarrado e amordaçado, mas depois de conseguirem libertar-se, não ficam de vigília até de manhã, preferindo dormir ao ar livre, dentro dos próprios sacos-cama – sem medo de que os meliantes regressem.

Se a própria história do fantasma não fosse pindérica o suficiente, as falhas de lógica apontadas só afundam mais o projecto. E é embrutecedor como uma cientista (bióloga marinha) acredita tão facilmente em almas penadas, mesmo sob a veemente súplica racional do namorado (de profissão incógnita). No cartaz e no prólogo, tem ainda o desplante de afirmar que se baseia em factos reais. Provavelmente, estes cirgir-se-ão à existência da ilha.

Uninhabited 2010


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