Três universitários decidem seguir um indivíduo misterioso que, segundo os caçadores da região, não tem licença de caça, mas aventura-se nas montanhas todas as noites. Quem será? O título não deixa muito à imaginação. O prólogo, com letras brancas em fundo negro, também não. Afirma que dois discos rígidos foram encontrados e que o resultado, após montagem, é o que pode ser visto adiante. Pois sim.
Portanto, devemos acreditar que três imberbes estudantes se aventuraram no meio dos fiordes noruegueses para filmarem um documentário cujo propósito não é claro (a época de caça ao urso?), seguindo indiscretamente (com equipamento de imagem e som profissional) um indivíduo armado e perigoso, que poderia pôr-lhes termo à vida em qualquer bosque nocturno. Sem mencionar que poderiam ter sido alvo de qualquer outro caçador de ursos do território, a andarem furtivamente pelas matas à noite.
André Ovredal não sabe fazer cinema. Não sabe escrever, não sabe contar, não sabe filmar. Há dez anos atrás, ele e um amigo fizeram uma porcariazita (Future Murder, 2000) que nem como curta-metragem se safava e agora volta à carga, com o que achou ser a solução para a sua ineptidão: um filme de câmara ao ombro, sem preocupações com enquadramento, gestão de espaço, direcção de actores, montagem ou guião. Afinal, se outros levaram a sua água ao moinho em detrimento da falta de talento, porque não ele.
Desde que Blair Witch Project (1999) fez disparar o género, qualquer zé ninguém com uma camcorder se tem empenhado em vender às distribuidoras os seus vídeos caseiros, ao ponto de estas ripostarem com as suas próprias encomendas. Histórias de terror simplórias, com entidades sobrenaturais ou serial killers (The Poughkeepsie Tapes - 2007, Alone With Her - 2006), cingindo-se ao interior de uma casa (Actividade Paranormal - 2009), prédio (Rec - 2007) ou cidade inteira (Cloverfield - 2007), invulgarmente espalhando-se por um terreno mais alargado (Monstros - 2010, O Diário dos Mortos, 2008). Até já assim se filmou no interior de uma gruta (A Caverna – Within2005) e nas casernas do Iraque (Censurado). Em 2008, os americanos fizeram o remake de Rec (Quarentena) e a Summit Entertainment já comprou os direitos de O Caçador de Trolls para um remake a estrear em 2014.
O Caçador de Trolls usa o mesmo artifício que Blair Witch Project: as filmagens foram encontradas, editadas e exibidas e está tudo dito, se não prestam a culpa é de uns estudantes que desapareceram. Esse é o primeiro defeito de O Caçador de Trolls. Não se interessar por apresentar um objecto coeso nem criar empatia com o público. Estudantes de quê, de jornalismo, de cinema, de política ambiental? Nenhum dos três jovens explica isso, nem têm entre si conversas que nos permitam perceber que são alunos, colegas de trabalho ou, sequer, amigos. O cameraman morre na incursão a uma gruta e a única preocupação dos restantes está em substituí-lo; não informam a família, a polícia ou a faculdade, apenas se limitam a contratar uma nova operadora de câmara. O caçador de trolls é outro: a sua missão é secreta e sancionada por uma unidade governamental, mas ele não se importa de levar os documentalistas consigo nem de contar-lhes todos os segredos do ofício, apesar de ser avisado a não fazê-lo. No final do filme, é suposto essa mesma unidade governamental fazer desaparecer os estudantes. Mas não teria sido mais simples confiscar-lhes o equipamento? Quem iria acreditar na sua história?
O que dizer dos trolls, propriamente ditos? São criaturas peludas, desengonçadas, pouco ameaçadoras e que têm cabeças que são um cruzamento entre papa-formigas e os velhos dos Marretas. Não passam de decalques na própria película, metade fatos de Carnaval, metade desenho animado. E os ursos utilizados foram comprados na mesma loja que os porteiros das lojas Natura. Ah, e os trolls tornam-se violentos quando cheiram cristãos, o odor do catolicismo é-lhes insuportável. A que cheira uma religião? Só eles sabem.
Dizer que a profissão de caçador de trolls é solitária é um eufemismo. É que a equipa atravessa regiões inteiras da Noruega e não há um segundo caçador à vista. Não deveriam cruzar-se com outros operacionais? Ou Hans é o único, para tantas dezenas de trolls? Ficam as paisagens naturais, entre chuvosas e nevadas, para quem tiver a Escandinávia como destino turístico em mente.
Trolljegeren 2010
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