Tuesday, October 28, 2014

The Town That Dreaded Sundown, de Alfonso Gomez-Rejon

Quando Ryan Murphy, produtor e argumentista de Glee e de American Horror Story, se cruzou com uma cópia de The Town That Dreaded Sundown (1976), perguntou a Alfonso Gomez-Rejon, um dos realizadores das duas séries, se estava interessado em dirigir o remake. Nesse momento, houve esperança. Depois envolveram Roberto Aguirre-Sacasa, um argumentista de Glee e do remake de Carrie (2013).
O original A Cidade Que Receava O Anoitecer é um dos primeiros slashers norte-americanos, anterior a Halloween (1978) e a Sexta-feira 13 (1981), um filme de culto de Charles B. Pierce, realizador autodidacta estreado em 1972 com um modesto falso documentário de terror, feito com financiamento local e a participação de familiares e amigos, que ninguém quis distribuir até o próprio alugar o cinema da avenida e enchê-lo durante três semanas; o filme acabou por fazer 25 milhões de dólares (A Lenda de Boggy Creek, 1972). Mais tarde, veio a trabalhar com Clint Eastwood por diversas vezes, como cenógrafo e argumentista (arrogando-se até a autoria da frase «Go ahead, make my day»). O slasher baseava-se no caso verídico de um serial killer nunca apanhado, que vitimou oito pessoas em redor de Texarkana, cidade fronteiriça entre o Texas e o Arkansas, em 1946. Graficamente violento, o filme contrapunha a investigação de um ranger aos homicídios e a reconstituição dos mesmos, que reduziu para cinco, por restrições de agenda.
O primeiro comentário a fazer ao remake é que, não obstante apresentar-se como tal, é, tecnicamente, uma sequela, visto incorporar na narrativa não só os factos descritos no filme original (1976), como excertos deste são vistos pelos novos personagens. A trama situa-se em 2013, onde um assassino volta a matar, seguindo o figurino e a sequência do homicida encapuçado de 1946. Com base em registos antigos e alguma especulação, a heroína investiga.
The Town That Dreaded Sundown (2014) pode queixar-se do baixo orçamento e do estúdio lhe ter cortado 15 minutos (como está, tem 84 minutos), mas a montagem foi feita com prata da casa, neste caso Joe Leonard, regular da série Glee e, assim sendo, independentemente da distribuição da culpa, há que lamentar o resultado final, um vulgar e limitado slasher de qualidade directa para vídeo. Para além de alguns enquadramentos interesses e efeitos de fotografia invulgares, mais sensíveis no início da película, fica o chorrilho de clichés, o bocejo da matança e um final de arrancar os cabelos pela cretinice. Se a ideia geral já foi usada pelo mediático A New Nightmare (1994) e pelo obscuro Hills Run Red (2009), entre outros, o desfecho com explicações imbecis decalcadas de Scream (1996) esgota a paciência. Em retrospectiva, não estamos sequer perante um filme de terror, porque lhe falta a atmosfera tétrica e incómoda, o frio na espinha, o salto na cadeira, mas de um policial sonso, onde prolifera o amadorismo. A banda sonora do sueco Ludwig Göransson também não convence porque, se funciona no ruído industrial que acompanha o assassino, perde-se na leveza das cenas mais calmas, esvaziando a inevitável tensão.
The Town That Dreaded Sundown 2014

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