Wednesday, April 27, 2011

Hobo With A Shotgun, de Jason Eisener

Quentin Tarantino e Robert Rodiguez decidiram divertir-se e reavivar o cinema que, na sua adolescência, enchia as salas das pequenas localidades. Eram filmes de baixo orçamento, que exploravam as sensações mais básicas de um público sem estudos, estimulando-o com sexo e violência. Por cada exemplo que ultrapassou a malha do tempo, dezenas perderam-se no esquecimento, ocasionalmente recuperados como peças de colecção. Com o projecto Grindhouse(2007), Tarantino e Rodriguez reinterpretaram o género e dirigiram uma longa-metragem cada um (À Prova de Morte e Planeta Terror), convidando os amigos Eli Roth e Edgar Wright a contribuírem comtrailers falsos, que seriam colados no início de cada filme.
Motivada pela paródia desses trailers, a produção de Grindhouselançou um concurso internacional de melhor Trailer, com os vencedores a serem exibidos no próprio de origem. No Canadá, o título vencedor foi Hobo With A Shotgun, sobre um mendigo que trocava o sonho de comprar um corta-relva por uma caçadeira e limpava, em dois minutos, a cidade do crime. Depois de Robert Rodriguez esticar o trailer de Machete em 105 minutos (2010), Jason Eisener pediu mais umas moedas para o seu mendigo.  
A história é tão velha como a Bíblia. Sodoma e Gomorra simbolizaram a cidade da perfídia e Deus fez nela cair bolas de fogo, matando a eito porque, de tão longe, era impossível ser mais exacto. A ideia tem encontrado repercussões pela ficção desde então, mas os americanos têm-se ficado pela assunção cristalizada em Shane(1953): um estranho chega à cidade e não encontra outra solução senão limpá-la à lei da bala. Clint Eastwood vestiu a farda durante três décadas, tanto munido de um six shooter como de uma .44 Magnum. Charles Bronson também não deixou a missão por mãos alheias e passou de arquitecto a vigilante, matando todo o tipo de escória menos Jeff Goldblum, quem, afinal, lhe violou a filha e matou a esposa. Mel Gibson tornou-se Mad Max (As Motos da Morte, 1979) e RoboCop (1987) foi para além das suas directivas, tudo no cumprimento do dever.
Rutger Hauer, a recuperar de um longo período de decadência, não é alheio ao género nem à condição. Outrora o actor preferido de Paul Verhoeven (Delícias Turcas, O Soldado de Orange, Amor e Sangue), este holandês tomou Hollywood de assalto, contra Sylvester Stalloneem Os Falcões da Noite (1981) e Harrison Ford em Blade Runner(1982), pontuando a acção com uma bela história de amor impossível, A Mulher Falcão (1985). Em 1986, destacou-se no panteão dos grandes psicopatas com o misterioso John Ryder (Terror Na Auto-estrada) e recebeu alguns prémios europeus com o arrastadoA Lenda do Santo Bebedor (de Ermanno Olmi, 1988), onde fazia de mendigo, o que repetiu em Fúria Cega (1989), adaptação americanóide do samurai cego Zatoichi, famoso no Japão por corrigir males com a sua katana, em filmes e séries. Terá sido o papel que melhor o preparou para Hobo With a Shotgun.
Mas, sem se saber bem como, Hauer, um loiro de olhos azuis penetrantes, passou de atraente a deprimente. É verdade que, no final da década de oitenta, já passara a barreira dos 45 anos, mas o descuido físico transformou-o num canastrão. Relegado à produção de série B, cada vez se foram tornando mais grotescas as suas prestações de supostamente irresistível velho gordo, com ele a, estranhamente, entrar em dois ou três filmes por ano. Na década e meia que se seguiu os seus papéis foram-se tornando secundários, ainda que tenham sempre continuado prolíficos (comparável, talvez, a Malcom McDowell). Novo fôlego o ergueu quando, em 2002, George Clooney o convidou para um pequeno papel na sua estreia como realizador (Confissões de Uma Mente Perigosa), em 2003 apareceu nas séries Smallville e Alias – A Vingadora, em 2004 foi vampiro na minisérie Salem’s Lot (já o tinha sido em Buffy, A Caçadora de Vampiros, de 1992; prepara-se para ser Van Helsing, na adaptação de Dario Argento de Drácula, para 2012) e em 2005 os mais atentos tê-lo-ão identificado em Sin City e em Batman – O Início.  
Seis anos depois, volta a ser memorável. Sim, o seu mendigo armado é um regresso à boa forma do actor, que a câmara de Jason Eisener e a cinematografia de Karim Hussain não desperdiçam. Apresentado que está o actor (se acaso fosse necessário), segue-se o filme. Cabe dizer, antes de mais, que alcança exactamente o objectivo a que se propôs: homenagear o nível mais baixo do cinema trash dos anos 70 e 80. Já o tinha conseguido no trailer. Se era uma aposta, pode considerá-la ganha. Mas, se pretendia dar um contributo à sétima arte, esse é outro assunto.
Os filmes que celebra caracterizavam-se por um elevado grau de amadorismo e ingenuidade (como os da Toma de Lloyd Kaufman, osGodzilas japoneses e as artes marciais dobradas em inglês que chegavam de Hong Kong), características ausentes de Hobo With A Shotgun. Assiste-se, sim, a um culto do grotesco cuidadosamente estilizado para que impressione, mas tão neutro e vazio como se fosse papel de parede de época. Eisener queria, notoriamente, fazer demais, com talento a menos.
Substituindo a honestidade dos verdadeiros exploitation por oportunismo, recheou o bolo de violência e gore até transbordar, apenas porque, supostamente, o efeito over the top iliba de responsabilidades. Mas este abuso da violência gráfica é tão grosseiro e transparente que não chega a ser entretenimento, é pura abjecção formal. Nem as intensas cores technicolor ou a banda sonora electrónica a soar à John Carpenter lhe dão vida. A dada altura, o anti-herói é repreendido: Não podes resolver todos os problemas do mundo com uma caçadeira, ao que este responde: É tudo o que sei fazer. Sim, este é o paradigma da América sintetizado. Mas, da mesma maneira que já ninguém a vê como a terra da liberdade e da justiça, mas das desigualdades e da hipocrisia, também este filme se alimenta das carcassas dos mais tresloucados veteranos do Vietname e as dá a comer aos ainda em pior estado soldados do Iraque pós-Saddam.
Dito isto, há uma cena que convém abordar, por surpreender pela sua eficiência: a incursão dos dois elementos da Peste no hospital. Se todo o filme é o alucinado pus de  excrementos de uma loucura viral, esta cena, de difícil concretização, acaba por funcionar em pleno. De resto, os filhos de Drake são erros de casting indesculpáveis e o resto está dito. 
Hobo With A Shotgun 2010

Season Of The Witch, de Dominic Sena

 Possuída por conjunturais vagas de embrutecimento, Hollywood conjura autênticos desperdícios de película, e nem sequer pisca os olhos. Entregar um argumento sem madeira a um realizador sem faísca e ainda deitar-lhe um balde de água fria, com a escolha do actor principal, não é, decididamente, a melhor forma de conduzir um auto de fé. 
Algures pelo século XIV, dois sanguinários cavaleiros abandonam as Cruzadas, devido à desavinda com um clérigo. Sim, até aí apostavam alegremente em quantas centenas de homens conseguiam trespassar com as suas espadas (seiscentos era a proposta para a primeira batalha onde os encontramos), mas ao invadirem uma cidade fortificada onde matam mulheres e crianças, decidem desertar. Enviuvar e orfanar está muito bem, agora trespassar inocentes (aparentemente, os homens são inerentemente culpados) é que não. Ao regressarem ao país natal, têm a cabeça a prémio e aceitam uma incumbência em troca da absolvição: levar uma prisioneira, suspeita de bruxaria, até um mosteiro longínquo, para que seja julgada e a peste negra, que assola a região, se extinga com ela. Ainda atormentado por ter morto mulheres (só o vemos matar uma) em África, o herói (se acaso pode chamar-se assim a um assassino) hesita entre condenar à partida a prisioneira à sua guarda ou considerá-la mais um bode expiatório da superstição local. No final, ficam os efeitos especiais risíveis e uma produção constrangedora. Há demónios, mas antes não houvesse.
Apesar do argumento de Bagi F. Schut andar por aí desde 2001, o início de Época das Bruxas parece imitar o de Robin Hood (2010), o que só por si não é coisa boa, e piora. Por outro lado, um filme tão mau dá espaço para que se entretenham interpretações tangenciais à trama e se disseque a História, extraída de frases e situações avulsas. Primeiro, o discurso belicoso dos clérigos que comandam os Cruzados: «Em nome do Senhor, matar os infiéis, matar, matar». A Igreja lidera pela ameaça e pelo medo. A absolvição dos pecados faz-se em troca de militância, numa visão que privilegia a conveniência e não a abnegação. A quebra de contrato com a Igreja não dá excomunhão, mas cadeia. As mulheres menos submissas aos desígnios masculinos são condenadas por bruxaria. As confissões de bruxaria são extraídas com a sempre fiável tortura.
Estas ideias interessantes são servidas como fast food, meras palavras ocas, copiadas e proferidas sem conhecimento do seu significado, compostas apenas para preencherem o cenário enquanto as espadas não se erguem. Depois da trôpega mas racional crítica à igreja católica, chega a melhor frase do filme, Vamos precisar de mais água benta (referência a Vamos precisar de um barco maior, deO Tubarão) cujo efeito anedótico só merece a resposta de que, nem com toda a água benta do mundo…
De resto, é mais um filme com Nicolas Cage, outrora um actor de talento razoável, que depois do Óscar (Morrer Em Las Vegas, 1995), achou que nada mais tinha a provar e desenvolveu um conjunto de tiques para simular reacções específicas, alheando o cérebro do processo de representação; pode ter funcionado para ele, mas o público nunca confundiu o equívoco. No mesmo ano, enfrenta bruxas e faz de feiticeiro (O Aprendiz de Feiticeiro, 2010) com o mesmo desinteresse.
Dominic Sena é outro equívoco. No meio de videoclips para Janet Jackson e Sting, estreou-se na sétima arte com o curioso mas desperdiçado Kalifornia (1993), regressando atrás das câmaras apenas ao virar do milénio, trabalhando com Nicolas Cage (60 Segundos, 2000) e com John Travolta (Swrdfish, 2001). A luz do dia só voltaria a vê-lo no amaldiçoado Whiteout (2009), um projecto de Joel Silver (produtor de Matrix) que a Warner Bros hesitou durante dois anos em distribuir, entendendo-se perfeitamente a sua opção.Época das Bruxas é outro que nem devia ter sido feito.
Os efeitos especiais estiveram a cargo da Tippet Studio. Phil Tippett destacou-se como animador de stop motion na Industrial Light & Magic (primeira trilogia da Guerra das Estrelas e Indiana Jones) e criou a sua produtora para desenvolver RoboCop (1987), mas com o advento da CGI passou para a supervisão de efeitos: Parque Jurássico (1991), Coração de Dragão (1996) e Soldados do Universo(1997). Recentemente, encontramos a sua produtora associada aos vergonhosos efeitos da saga Crepúsculo (2009-2011). Em Época das Bruxas, a sua prestação é embaraçosa, comparável a um banalvideojogo com demónios.
Season of the Witch 2010

Exame 2009, de Stuart Hazeldine

O Método Grönholm, peça de teatro que já inspirara o filme espanholEl Método (2005), está na origem de O Exame, guião de Simon Garrity e de Stuart Hazeldine, que também realiza. A última prova para um cargo directivo numa misteriosa corporação assenta na prestação dos oito candidatos à resposta que derem a uma única questão, num prazo de oitenta minutos. Fechados numa sala com oito mesas e nenhuma janela, deparam-se com uma folha em branco. Qual é a pergunta e como identificá-la?
O filme começa bem. Os candidatos são apresentados de modo simples, distinguem-se uns dos outros pelas alcunhas atribuídas entre si e contribuem com exercícios intelectuais, através dos quais tentam extrair do papel a questão que poderá dar-lhes o emprego de sonho. Expõem a folha à luz ultravioleta, infravermelha, água, lume, decalque e outros métodos de aprendiz de MacGyver. Durante este processo, aliam-se, voltam-se uns contra os outros e formam alianças. O lema é pensar fora da caixa e o enredo não se abstém de partir ovos para fazer omoletas.  
Stuart Hazeldine é um guionista bastante prolífico, mas a verdade é que mais de uma dezena dos seus trabalhos continua sem procura e as rescritas que comportam o seu selo são assustadoramente más:Knowing (2006) e O Dia Em Que A Terra Parou (2008). Neste sentido,Exame escapa ao repúdio, mas está longe de ser satisfatório. Conforme avança e a imaginação regride, os esquemas entram no cliché (torturar quem parece saber mais do que os outros sobre o emprego) e são adicionados elementos inesperados e de difícil deglutição (uma epidemia mundial que poderá ter um infectado na sala e para cuja cura contribui a empresa para a qual se candidatam), com especial incidência na presença de uma pistola carregada nas mãos de alguém que se comporta como um autómato. No final, a resposta à questão inicial é uma evidência tal que exigia apenas ser tratada como um enigma. 
Hazeldine não se porta mal atrás das câmaras e os actores, todos desconhecidos menos Colin Salmon (braço direito de M, a Primeira Ministra dos 007s com Pierce Brosnan), fazem um bom trabalho. O desenvolvimento da tensão e o facto de ser filmado integralmente num único compartimento ajudam a manter a curiosidade aguçada até ao fim.
Exam 2009

Deixa-me Entrar, de Matt Reeves

O sueco John Ajvide Lindqvist adaptou o seu romance Let The Right One In, publicado em 2004, ao cinema (Deixa-me Entrar, 2008), uma história de vampiros passada nos arredores de Estocolmo, no início dos anos 80. O realizador Thomas Alfredson, pouco versado no folclore de caninos afiados, filtrou o argumento, despojando-o de praticamente todo o mito e conservando apenas o básico. Isso provou ser exactamente o que o filme precisava, já que, desta forma, pôde centrar-se nas duas crianças protagonistas, um menino alvo de bullying na escola e uma menina que não se lembra da última vez que soprou velas de aniversário.
 
Ser aclamado pela crítica e por júris internacionais tornou inevitável um remake americano e Matt Reeves, sem nada para fazer desdeCloverfield (2007), regozijou quando Thomas Alfredson recusou a oportunidade de voltar a fazer o mesmo filme. E copiar foi o que aconteceu, de forma tão abusiva que, nesta recriação cena a cena do original, a única diferença é, praticamente, a insistência no tom sépia e as feições dos actores. Que Matt Reeves se atribua créditos de argumentista é tão abusivo como aconteceu com Quarentena,remake do espanhol [Rec] (2007), onde John Erick Dowdle se apropriou do argumento de Jaume Balagueró e Paco Plaza e colocou nos créditos que era seu e da esposa.
Esta sensação de papel químico faz de Deixa-me Entrar (2010) um objecto redundante, já que as únicas alterações são dois fugazesframes, um que tira do original e outro que lhe imprime. No romance, a vampira não era uma menina, mas um menino capado num estranho ritual. Em Deixa-me Entrar (2008), optou-se pela indistinção de um relance genital, onde são visíveis cicatrizes inexplicadas; Deixa-me Entrar (2010) omite a vagina mutilada, não questionando o género sexual da personagem. O frame acrescentado é de uma foto antiga, que mostra a vampira com um rapaz, presume-se que o seu protector, no original presumivelmente pedófilo, simplesmente cuida dela desde a adolescência (algo que cria um paralelismo com a situação actual, mas uma incongruência: como é que duas crianças de doze anos sobrevivem fora do radar tanto tempo?). Tirando isso, o enredo é igual nos dois Deixa-me Entrar (a distribuição portuguesa, ao atribuir o mesmo título a ambas versões, ainda o acentua). Muitos elementos do romance continuam, portanto, fora da película.
 
A nota central de Deixa-me Entrar é a melancolia, arrastando a história por lugares comuns sem encontrar o seu nicho, pecando por preocupar-se exclusivamente com a estética e esvaziando os personagens de emoção, marionetas sonâmbulas que se deixam conduzir sem motivação para além da escrita. Enquanto que, emDeixa-me Entrar (2008), se vive uma história de amizade entre duas crianças de doze anos, em Deixa-me Entrar (2010) repete-se a mímica, mas com uma frieza que raia a indiferença. Kodi Smit-McPhee (A Estrada, 2010) e Clöe Moretz (Kick Ass, 2010) não têm a menor convicção, reduzindos a meras figuras friorentas num ambiente que as transcende. O trio de bullies também é desprovido de alma e nem o sorriso malicioso de Dylan Minnette (será possível alguém ter realmente este apelido?) lhe dá a menor intensidade.
 
Deixa-me Entrar (2010) é desprovido de chama, mas não deixa de ter a mesma história consistente e o mero seguimento do storyboardgarante a qualidade do entretenimento, lamentando-se só não ter havido uma entrega mais emotiva, uma maior paixão pelo material.
Let Me In 2010

O Coleccionador, de Marcus Dunstan

Marcus Dunstan e Patrick Melton são os argumentistas da segunda metade da saga Saw (IV a VII), com o primeiro a iniciar-se na realização. A ideia não anda longe da de Saw (numa primeira fase, o guião seria para uma prequela de Saw, antes da torneira lhe ser fechada), aliás, já que inclui um serial killer com gosto pela manufactura de armadilhas, só que desta vez não se preocupa em justificar as suas acções, nem sequer em dar-lhe um rosto ou um nome. Fica o título, pelo que lhe chamaremos de Coleccionador, ainda que não se entenda muito bem de quê, já que tal não é perceptível das suas acções (vê-se arrancar um dente a uma vítima, mas não o guarda). Uma das vítimas, que se identifica como isco, refere que ele colecciona pessoas mas, pelo que lhes faz, não as deve querer em muito bom estado (ou com as peças todas).
A ideia, senão singular, é, pelo menos, interessante: o que aconteceria se um ladrão de cofres se imiscuísse numa casa onde umserial killer já estivesse a dar largas à imaginação? O resultado é um jogo de gato e de rato, que começa de forma curiosa, se enrola nas suas próprias armadilhas e termina trucidado pelas escolhas menos felizes.
Numa cottage isolada no meio dos bosques, um dos operários da sua remodelação regressa para roubá-la, já que, nas horas vagas, é arrombador de cofres. Uma vez lá, rapidamente percebe que algo está errado. Primeiro, a casa não está vazia, contrariamente ao esperado, e quem vagueia pelo seu interior não é nenhum dos donos. Os gritos destes podem ouvir-se, aliás, pelas condutas de ar. Em todos os compartimentos da casa há ciladas espalhadas: morde-canelas afiadas contra lobos na sala, anzóis a pender do tecto da casa de banho, cola no chão de um dos quartos, uma trama de fio cortante no corredor, um candelabro cheio de facas no tecto, trancas nas portas e janelas, uma catapulta com bicos na sala de projecção e uma cadeira de tortura na cave.
O ladrão interrompe a obra do serial killer e tem de decidir rapidamente entre ajudar as vítimas ou evadir-se incógnito. Ao optar pela primeira hipótese, abrem-se as dificuldades de confecção da trama. Primeiro, a exagerada panóplia de armadilhas. A única oportunidade de montá-las seria depois de dominar a família proprietária e, aí, perde o sentido. Se já os subjugou e aprisionou na cave, fazendo deles objecto de tortura, para quê armadilhar a casa toda? Esperava alguma surpresa?
Como entretenimento, O Coleccionador cumpre pela mediania. Bombardeia os sentidos com uma banda sonora industrial e uma montagem rápida, tendo cuidado com o enquadramento, a iluminação e optando por uma adequada sujidade granulada da imagem, com o jogo do gato e do rato a desviar a atenção das falhas. Josh Stewart e Juan Férnandez enfrentam-se de ambos os lados da máscara (nunca se vê o rosto do Coleccionador), mas é Madeline Zima que mais aquece, a repetir o papel de adolescente rebelde a que habituou o público de Californication, exibindo um fugaz topless para recordar o primeiro episódio dessa série.
The Collector 2009