Filme de abertura do festival de Sundance 2009, Grace é uma obra cerebral, uma meditação sobre nascimento, parto e matriarcado. Paul Solet desenvolveu a sua própria curta-metragem de 2006 num argumento mais complexo, mas tão frio e concentrado em si próprio que aliena o espectador, sendo incapaz de gerar empatia ou emocioná-lo.
Exercício intelectual, subtil e contido sobre a maternidade no seu mais grotesco, Grace alicerça-se numa visão carnívora das relações familiares e traça bissectrizes entre a alimentação e a gestação, sendo a hierarquia existencial definida por um braço de ferro entre a força das mulheres e a subjugação dos respectivos homens, com o bem estar dos filhos como objectivo cimeiro de toda a realidade.
Não sendo original, o conceito por trás de Grace está longe de poder ser espartilhado num género. Dificilmente caracterizável como terror, centra-se na relação de uma mãe vegetariana e do seu bebé, que revela intolerância láctea mas predilecção por sangue. Tanto a direcção de fotografia de Zoran Popovic como a banda sonora de Austin Wintory têm como missão filtrar a vida da película e concentrar-se nos espaços neutros, vazios, da percepção, evidenciando o alheamento dos personagens e o seu elevado grau de perturbação.
Infelizmente, toda esta precisão em agrilhoar um surrealismo subliminar em nuances imperceptíveis transforma-o num objecto estéril, inacessível, janela para um universo impessoal e limitado a mecanismos básicos, intrínsecos ao estudo quase laboratorial dos personagens. Jordan Ladd e Gabrielle Rose estão perfeitas para os seus papéis. No desfecho do que poderia sintetizar-se de Mamas, Moscas e Sangue(sempre com um bebé a tapar o ângulo de visão mamário), um conflito físico muito mal concretizado e um escape ainda pior engendrado. Demasiada preocupação estética esvaziou o filme de sentimento, ficando a presunção sozinha no prato, seja este de pastosa comida macrobiótica ou suculenta e sangrenta carne vermelha.
Grace 2009
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