Um torture porn invulgar, surpreendente, implacável e impiedoso. Doentio e isotérico, vai buscar o seu título à definição grega (testemunha) e não católica (sacrifício por uma causa), ainda que as duas possam, num certo sentido, ter continuidade. Vítimas teria sido uma escolha demasiado banal.
Mártires tem o poder de choque de um filme que começa a matar e só perde alento na recta final, quando também o público está já exaurido e tem de ser alimentado à boca. Apesar disso, e mesmo reconhecendo-se o mérito da constante renovação de elementos, as justificações apresentadas soam demasiado a falso para que sejam entendidas como algo mais do que um estratagema solvente. Fica a indisposição e a repulsa causada pela impotência de assistir ao realismo da violência passiva, com alheamento clínico.
Escrito durante uma depressão pelo próprio realizador, o filme é quase esquizofrénico na construção da primeira parte, dando a ferocidade entretanto lugar à tragédia e à profecia, quando mudam os olhos que contam a história. há uma sensação de Irreversível (2002), como se a vingança viesse no início e a vontade de retribuição no final. A ambiguidade do desfecho, contudo, é dissonante na sua aberração. Em vez de solene, como claramente pretende ser, não funciona como advertência à curiosidade sobre o que se esconde para além da morte, mas como anedota. A menos que adoptemos, aqui, a visão católica de Céu e Inferno. Isto é, aquilo que um mártir vê não é necessariamente o lugar para onde todos irão.
Pascal Laugier estará ao leme do remake de Hellraiser (1987), actualmente em pré-produção e com estreia prevista para 2011, como realizador e argumentista. Claro que muita água poderá ainda passar por baixo da ponte, como os nomes dos realizadores franceses Alexandre Bustillo e Julien Maury (A L’Interior, 2007) afastados das mesmas funções pela Dimension Films, o estúdio que produzirá o filme, agora entendido como um reboot e não como um remake.
Martyrs 2008
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