Já sem Darren Lynn Bousman ao leme (mas dirigiu a cena de abertura), a saga de Saw não dá mostras de abrandamento, tanto mais que conserva um personagem, no final, em posição para novo jogo. A realizar está o estreante David Hackl, que já era production designer da franchise desde Saw II e director da unidade de apoio desde o III.
Ao cabo de cinco películas, o conceito por trás de Saw continua a ser abraçado, desdobrado-se em esquemas de perpetuação da imagem de marca, chegando ao cúmulo de matar o cérebro das operações (Jigsaw) em Saw III, mas mantendo-o omnipresente até à data, através do rosto do fantasmagórico Tobin Bell. Os flashbacks permitem dar corpo a uma história inicialmente envolta em mistério e as revelações provam-se labirínticas o suficiente para que a lógica não se perca, oferecendo-nos um percurso iniciático cheio de nuances daquele que antes não passava de uma voz cavernosa em meia dúzia de cassetes áudio.
Desde Saw IV que a fórmula se articula em duas partes distintas, factor ignorado nos três primeiros tomos mas agora recorrente. Numa delas, tentam ligar-se os pontos soltos, descobrindo como os novos personagens não aparecem por acaso, já andando na sombra há muito tempo, e que os factos de Saw IV ocorreram paralela e simultaneamente aos de Saw III e os de Saw V imediatamente a seguir. É algo que pode ser encarado mais como um extra do que como um motor da acção, mas a curiosidade mórbida por árvores genealógicas encontra aqui satisfação. A segunda parte são os jogos de vida ou morte, que representam a raiz do título, sendo que Saw é um trocadilho entre puzzle (Jigsaw) e serra (saw). Desta vez, porém, o jogo não tem tempo para respirar. As etapas são apressadas e os jogadores demasiado automáticos nas suas reacções. Não perde a coerência, mas não tem a menor espontaneidade.
Em suma, Saw V não investe em nada de novo, apenas se limitando a agir em conformidade com aquilo a que os fãs se habituaram. Entre o comodismo e a inventividade, podia ser pior. Contudo, a produção em série extinguiu o factor surpresa. Até Charlie Clouser, antigo membro dos NIN e encarregue da banda sonora desde o início, limita-se a reciclar o tema original e a compor algumas variações mundanas.
Saw V 2008
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