Tuesday, February 10, 2009

O Comboio dos Mortos, de Ryuhei Kitamura

Clive Barker é um autor de terror de sucesso (já nos anos 80 Stephen King dizia que vira o futuro do terror e o seu nome era Clive Barker – tal não veio a concretizar-se, o que não impede que tenha sido um excelente elogio), mas O Comboio dos Mortos é apenas um conto de 1984, inserido na colectânea Livros de Sangue Volume 1 (há seis volumes) e, verdade seja dita, é mais anedótico do que assustador. Apenas assimilável como peça de surrealismo, assente no desafio «E se houvesse um carniceiro no metropolitano?», a concretização é difícil de engolir, especialmente numa óptica realista, e a sua transformação em longa metragem seria sempre um projecto na corda bamba, entre o ridículo e o medonho.

O resultado é abismal. As inconsistências da narrativa original não são resolvidas e a aposta na violência demasiado gráfica inquina pela inclassificável falta de destreza técnica. O realizador Ryuhei Kitamura teve carta branca para expressar-se de forma sangrenta, mas há situações em que um freio seria o melhor amigo. O gore feito em computador não é convincente, ficando mais próximo do videojogo (certas coisas são preferíveis da maneira tradicional).

As limitações de Vinnie Jones são uma vez mais postas em evidência, tanto mais que até como hooligan perdeu credibilidade depois dos anúncios da Bacardi e de levar uns açoites em Os Condenados.

O Comboio dos Mortos resume-se a um talhante de fato e gravata numa carruagem-matadouro e a um fotógrafo amador obcecado em descobrir o mistério. Infelizmente, quando a resposta é revelada de forma tão trôpega e canhestra, percebe-se claramente que Clive Barker chegou a um impasse e escreveu a primeira coisa que lhe veio à cabeça, despachando rapidamente uma história para a qual não tinha chegado a prever um final à altura. Bem vistas as coisas, qualquer filme de terror podia acabar com esta explicação (nunca satisfaria o público, mas isso são outros quinhentos).

A favor de Ryuhei Kitamura, japonês mais habituado a realizar fantasias de artes marciais, indica-se algum domínio da atmosfera, que permite que o suspense sobreviva numa cena ou noutra. Não é o suficiente.

The Midnight Meat Train 2008

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