Thursday, October 13, 2016

Cannibal Ferox, de Umberto Lenzi

   
Diversos sub-enredos perdem-se na selva da Colômbia no que poderá ter sido desleixo do editor de montagem ou falta de material por parte de um realizador cujo guião foi sendo escrito em folhas de árvore que ficaram nos ramos. Um trio de nova-iorquinos parte para a Colômbia para confirmar que a prática de canibalismo é um mito e assim uma deles poder validar a sua tese de doutoramento, quando se cruzam com um duo que afirma fugir a pé de uma tribo com doutoramento precisamente nessa especialidade. Antes disto, já Nova Iorque tinha sido palco de um homicídio num apartamento, porque um agiota quer reaver dinheiro roubado por um indivíduo que vive com uma guia e esta pode, sem se aperceber, ter-lhe incutido a ideia de que era fácil recolher esmeraldas das margens doces da Amazónia. O ladrão foi para a Colômbia com o sócio e acaba de cruzar-se com três turistas da sua cidade natal, um polícia de Nova Iorque vai procurá-los à América do Sul e encontra a única sobrevivente do grupo, estava ali mesmo ao virar da esquina e a barreira linguística não é problema, toda a gente fala italiano neste filme. No final, e não se trata de spoiler por irrelevância, a arqueóloga apresenta a tese confirmando a inexistência de canibais, apesar a da sua experiência em contrário, porque o trabalho já estava escrito e dar os parceiros de excursão como comidos por crocodilos representa menos papelada.
Cannibal Ferox fecha a trilogia canibal de Umberto Lenzi, depois de O País do Sexo Selvagem (1972) e de Comidos Vivos (1980) e faz parte do boom do género que caracterizou a época e tem como maior nome Ruggero Deodato (Holocausto Canibal, 1980). Fita exploitation feita sem dinheiro nem talento, carrega na música disco sound tanto nas cenas norte como sul americanas e o facto de Lenzi ter 65 títulos no currículo mostra bem o nível de atenção dedicado a cada um. Realizador de western spagetti, macaroni war e giallo durante os anos '50 a '70, este entusiasta da sétima arte deixou o curso de Direito a meio para se dedicar ao cinema populista e fez carreira em lixo. Tirando a morte real de alguns animais sem o menor impacto, assiste-se a uma única cena de canibalismo, o amputamento de um braço (o de um pénis é feito off camera) e a suspensão de uma mulher através de ganchos nos seios, sendo que nenhum dos efeitos visuais é motivo de orgulho para Gianetto de Rossi.
Banido em trinta e um países à época da estreia, nenhum do hype acaba legitimado, tal o desolador amadorismo de ponta a ponta. Não há suspense, não há representações dignas nem cinematografia e a música é um reaproveitamento da banda sonora do filme anterior de Lenzi. Quanto aos índios, bem podiam estar a usar máscaras de William Shatner, tão pouco convincentes na sua inexpressividade, limitando-se a cumprir ordens de carácter motor: anda, pára, come. Mais despachado é o italiano Giovanni Radice (a assinar com o nome John Morghen para o filme parecer menos euro trash) que encontra forças para correr dos captores horas depois da amputação da genitália (a genica termina quando lhe abrem o crânio). 
Cannibal Ferox 1981

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