Na década que distribuiu facas de lâmina romba por mãos hesitantes entre fazer hambúrgueres ou barbecue, uns tornaram-se chefs e outros amputaram o próprio futuro. Tobe Hooper massacrou o Texas, Wes Craven ensanguentou a última casa da esquerda e John Carpenter transformou uma máscara do Capitão Kirk na encarnação do Mal; nomes intermédios houve ainda como William Lustig e Larry Cohen, mas Dennis Donnely, cuja carreira se reduziu a stock director para a produtora televisiva de Jack Webb, nem pela aliteração no nome se destacou. Em 2004, Tobe Hooper realizou um remake só de nome e em 2013 chegou a sequela, que até o título perdeu (tendo passado a intitular-se Coffin Baby).
Alegadamente baseado em factos reais nunca corroborados por factos, ocorridos poucos anos antes numa área sórdida de Los Angeles, Os Homicídios da Caixa de Ferramentas é uma reconstituição obscura, tosca e envergonhada, que se entretém a atirar alguma nudez e ketchup contra a objectiva da câmara em segunda mão, sem um controlo firme da narrativa, da prestação dos actores nem da montagem.
A curiosidade deste video nasty esgota-se no título. Em duas noites consecutivas, um encapuçado faz cinco vítimas no mesmo condomínio. Enquanto que a polícia não segue uma única pista, dois adolescentes resolvem o puzzle sem dificuldades, cada um a seu tempo, o que acabará por conduzir a um confronto inesperado, ainda que de desenlace mal resolvido, faltando ainda tratar da situação do assassino e da vítima raptada (as outras quatro tiveram encontros imediatos com as ferramentas da caixa, nomeadamente berbequim, de uma chave de fendas, de um martelo e de uma pistola de pregos). Anónima violência urbana tratada com insuficiência de talento e de financiamento, a debater-se com um caso, na melhor das hipóteses, de mais olhos do que barriga. A abordagem dos temas da recta final (distúrbios mentais, religiosidade, incesto e violação) peca por trôpega e tardia; mas não deixa, reconheça-se, de elevar a fasquia.