Monday, August 5, 2013

The Toolbox Murders, de Dennis Donnely


Na década que distribuiu facas de lâmina romba por mãos hesitantes entre fazer hambúrgueres ou barbecue, uns tornaram-se chefs e outros amputaram o próprio futuro. Tobe Hooper massacrou o Texas, Wes Craven ensanguentou a última casa da esquerda e John Carpenter transformou uma máscara do Capitão Kirk na encarnação do Mal; nomes intermédios houve ainda como William Lustig e Larry Cohen, mas Dennis Donnely, cuja carreira se reduziu a stock director para a produtora televisiva de Jack Webb, nem pela aliteração no nome se destacou. Em 2004, Tobe Hooper realizou um remake só de nome e em 2013 chegou a sequela, que até o título perdeu (tendo passado a intitular-se Coffin Baby).
 
Alegadamente baseado em factos reais nunca corroborados por factos, ocorridos poucos anos antes numa área sórdida de Los Angeles, Os Homicídios da Caixa de Ferramentas é uma reconstituição obscura, tosca e envergonhada, que se entretém a atirar alguma nudez e ketchup contra a objectiva da câmara em segunda mão, sem um controlo firme da narrativa, da prestação dos actores nem da montagem.
 
A curiosidade deste video nasty esgota-se no título. Em duas noites consecutivas, um encapuçado faz cinco vítimas no mesmo condomínio. Enquanto que a polícia não segue uma única pista, dois adolescentes resolvem o puzzle sem dificuldades, cada um a seu tempo, o que acabará por conduzir a um confronto inesperado, ainda que de desenlace mal resolvido, faltando ainda tratar da situação do assassino e da vítima raptada (as outras quatro tiveram encontros imediatos com as ferramentas da caixa, nomeadamente berbequim, de uma chave de fendas, de um martelo e de uma pistola de pregos). Anónima violência urbana tratada com insuficiência de talento e de financiamento, a debater-se com um caso, na melhor das hipóteses, de mais olhos do que barriga. A abordagem dos temas da recta final (distúrbios mentais, religiosidade, incesto e violação) peca por trôpega e tardia; mas não deixa, reconheça-se, de elevar a fasquia.
 


Toolbox Murders, de Tobe Hooper

Filho do dono de uma sala de cinema no Texas, um aborrecido professor do ensino secundário e operador de câmara de documentários de 31 anos reuniu um grupo de colegas e alunos e revolucionou o cinema de terror, com o chocante Massacre no Texas (1974). O filme abriu-lhe as portas de Hollywood, mas o talento não entrou. Depois de Steven Spielberg se ter visto obrigado a substitui-lo na direcção de Poltergeist (1982), Tobe Hooper assinou contrato com a produtora Cannon e da mediania seguiu até à mediocridade, com os seus filmes a passarem rapidamente a direct-to-video. Para a televisão, adaptou razoavelmente a incursão de Stephen King pela lua cheia com Salem’s Lot (1979), mas foi anódino o serviço prestado a Freddy Krueger (episódio No More Mr Nice Guy, da série Freddy’s Nightmares). Quando, no documentário Flesh Wounds: Seven Stories of the Saw (2006), o director de fotografia Daniel Pearl reclamou a autoria dos mais imaginativos ângulos de câmara e enquadramentos de Massacre no Texas, tornou-se claro que o sucesso desse filme não de devia ao mérito do seu realizador.
Toolbox Murders (2003) é um remake de The Toolbox Murders (1978) apenas no título mas, qual cego a seguir outro cego, não lhe acrescenta nada. No filme original, um encapuçado matava três mulheres num complexo habitacional e regressava no dia seguinte para eliminar a última e raptar uma adolescente. Tratava-se de uma história de patologia e violência urbana, onde um homem destroçado pela perda (da filha) perdia o controlo ao ser ofendido por uma condómina (a primeira vítima) e se via obrigado a suprimir duas testemunhas (uma que o vira a sair do apartamento do primeiro crime e outra que o flagrava durante o segundo homicídio). Como perdido por cem, perdido por mil e o deboche é um crime punível aos olhos dos iníquos de Deus, regressaria no dia seguinte para matar uma condómina que gostava de dançar à janela em roupa interior e raptar uma adolescente que lhe lembrava a filha (falecida num acidente de viação). Inesperadamente, o filme ainda incluía menções a incesto (entre primos) e uma tesoura. Um filme mau, que podia ter sido, pelo menos, melhor.
 
remake tem, em comum, apenas a caixa de ferramentas e, bem, condóminos. Num prédio em obras, um indivíduo anda de apartamento em apartamento a matar residentes, uns mais irritantes, neuróticos ou bisbilhoteiros do que os outros, e uma nova moradora decide investigar o desaparecimento da vizinha do lado, quando esta não aparece para o jogging matinal. É um slasher de pacote, de sabor televisivo, sem alma nem elementos redentores. Ao contrário do original, invoca o ocultismo e namora o ambiente da casa assombrada, mas todas as mortes se servem de utensílios dos trabalhos manuais. Nem as presenças de Sheri Moon (ainda por casar com Rob Zombie), Angela Bettis e Juliet Landau salvam o filme da nulidade. Para falso remake, conta já com uma sequela de título Baby Coffin (2013). Sem menção a Toolbox Murders. Teria sido uma jogada para distanciar-se deste fiasco? Aparentemente, o consenso é de que é ainda pior …
 
The Toolbox Murders 2003

A Noite dos Mortos Vivos, de Fede Alvarez

Primeira longa-metragem do uruguaio Fede Alvarez, A Noite dos Mortos Vivos (2013) é apenas o remake cronologicamente no topo de uma interminável lista de execráveis desilusões. Evil Dead (1981) lançou a carreira de Sam Raimi, que entretanto perdeu toda a credibilidade (trilogia Homem-Aranha), sendo mais um prego no seu caixão ter sido quem escolheu o substituto.
 
Evil Dead não funciona nem como comédia inadvertida para quem ainda tenha paciência para remakes ou reboots, termos indicadores óbvios de desperdício de película e ausência de talento. Previsibilidade e histeria, com personagens estúpidas a cometerem actos indefensáveis sob uma irritante conjugação de gritos e uma banda sonora estridente (típica de Roque Baños). Lentes de contacto esquisitas, vómitos coloridos e uma câmara que não pára quieta, a correr entre os desmembramentos e as saídas de emergência, para impedir os insatisfeitos de abandonarem a sala. Um filme baço e entediante, sem a menor entrega ou alma, num descrédito tal que até humanos violenta e reiteradamente agredidos com barras de ferro nos membros superiores apenas precisam de alguns minutos de pausa para que estes, sem a menor dor, reganhem a mobilidade e a força. De entre as regras mais básicas, não respeita sequer a da construção gradativa do suspense nem a do estabelecimento de personagens minimamente interessantes para que o seu destino não seja selado com indiferença.
 
Sem som, até poderia funcionar como um case study para técnicos de efeitos especiais, eventualmente menos cansativo sem o incómodo dos berros e da orquestra. A narrativa é ténue e risível, com dois casais a reunirem-se numa cabana de bosque para ajudarem uma toxicodependente (irmã de um deles) a ver-se livre dos últimos resíduos de droga no organismo. Há também algumas frases soltas sobre uma mãe doente que não adianta nada. Na cabana, encontram o livro dos mortos, Necronomicon (agora chamado Naturom Demonto), e quatro palavras em latim são suficientes para acordar a besta.
 
É certo que, até hoje, nenhum remake de uma pérola do terror chegou aos calcanhares do original, mas este é dos piores exemplos (no outro extremo estará, eventualmente, Massacre no Texas, 2003). Ao proclamar-se, nos cartazes publicitários, o filme mais aterrorizador de sempre, estava a convidar o fracasso e a anedota. Fica a curiosidade de Diablo Cody (criadora de Juno e de As Taras de Tara) ter sido contratada para americanizar os diálogos, mas tão poucas das suas sugestões foram efectivamente aceites que foi dispensada dos créditos (pelo que, diga-se, ficou ela a ganhar). Uma sequela já se encontra na forja, e convém notar que Evil Dead II (1987) era mais um remake do que uma sequela, tendo repetido o enredo com efeitos especiais mais convincentes. 
 
Reforça-se (nunca será demais) a nulidade do filme e a estupidez dos envolvidos com a referência a um prólogo perfeitamente dispensável e que deveria alterar a noção do Livro dos Mortos. Isto é, ao contrário do Necronomicon, que era um manual de instruções para invocar um demónio, o Naturom Demonto é utilizável com o objectivo de aprisioná-lo ou eliminá-lo, conforme as páginas. É um livro troca-tintas.

A Casa do Fim da Rua, de Mark Tonderai

Primeiro, o título. A Casa do Fim da Rua acena descaradamente a A Última Casa da Esquerda, um original de Wes Craven de 1972, que teve um razoavelmente inspirado remake em 2009. Curiosamente, nenhum dos filmes tem um mapa que permita entender a denominação. Será mesmo a última casa à esquerda ou a casa do fundo da rua? Não se sabe. Interessa? Nem o filme.
 
A Casa do Fim da Rua assenta numa ideia que Jonathan Mostow (Breakdown, 1997) propôs a Richard Kelley (Donnie Darko, 2001) transformar num guião, corria o ano em que lhe acenaram com Terminator 3 (2003) e abandonou o projecto. Agora com guião de David Loucka (Dream House, 2011) e realização de Mark Tonderai (Hush, 2008), esta trôpega e desinspirada variação de terror juvenil revela não ser mais do que uma reciclagem do twist de Sleepaway Camp (1983).
 
Depois de uma hora mergulhado em torpor, o filme parece acordar da forma mais estúpida possível. Os diálogos são pedestres e as atitudes grotescas. Adolescentes normais tornam-se, sem provocação, agressivos e pirómanos. A protagonista, uma adolescente que se quer enturmar numa nova escola, abandona o evento de bandas (em que é concorrente) a meio para ir atrás de um rapaz de quem gosta e, depois de verificar que ele não está em casa, em vez de voltar atrás, decide esquadrinhar-lhe a casa, que se assemelha a um labirinto, com a garagem a situar-se no andar térreo por fora, mas no subsolo por dentro (pode ser deficiência da montagem). A resistência do corpo humano nunca deixa de surpreender: há quem caia das escadas e morra, mas quem seja atravessado por uma faca de cozinha e viva para contar a história (só não acredita quem nunca ouviu falar em faquires), ou leve uma violenta martelada na cara e esta fique intacta.
 
Com Jennifer Lawrence, Gil bellows e Elizabeth Shue. Por último refira-se que A Casa do Fim da Rua partilha, até dado momento, com Massacre no Texas 3D (2013), a linha narrativa do psicopata mantido na cave pelo membro de família que habita por cima.
 

House At The End of the Street 2012