Eric Red é um realizador-argumentista com um período de talento ilusório de apenas dois anos (1986 e 1987), quando assinou os guiões de Terror na Auto-estrada e Depois do Anoitecer. Contudo, é aos realizadores Robert Harmon e Kathryn Bigelow, respectivamente, que temos de agradecer pela qualidade desses filmes. Quando o próprio Eric Red se senta atrás das câmaras, até os seus guiões parecem baços. Cohen & Tate, Undertow e Bad Moon são prova disso. Refém do Espírito também.
Após uma primeira cena cativante, em que os dois personagens principais são apresentados faseadamente, e de uma premissa provavelmente interessante, somos castigados com uma medíocre e incongruente história de casa assombrada.
Uma mariticida é sentenciada a uma pena de um ano em prisão domiciliária, com pulseira electrónica, na casa onde matou o marido. Onde ele ainda está como fantasma, e mais agressivo do que em vida. Infelizmente, o desenvolvimento da história não podia ser mais laxativo. Rapidamente se cai na dormência de velas que se apagam e reacendem, ruídos numa casa vazia e objectos na cozinha que são atirados pelo ar. Após a tentativa frustrada de exorcizar a casa da presença maligna, a solução final não faz o menor sentido. Se a alma penada já por várias vezes colocara no dedo da viúva o seu anel de noivado, porque haveria o resultado de ser diferente por ela lho atirar? Especialmente quando ele o intercepta com a mesma mão que lho enfiara no dedo antes.
Famke Janssen especializou-se em papeis de mulher frágil e não destoa; infelizmente, não se percebem algumas flutuações de humor, em que passa de mulher de armas a menina assustada, e o realizador gosta de atirá-la pelo ar contra a parede e mobiliário avulso, sem que ela apresente mais do que hematomas, quando claramente um bom quiropracta ou um molde de gesso deveriam entrar no menu. Bobby Cannavale é outro que, usualmente, consegue dar credibilidade ao seu papel, mas aqui está completamente à nora. Primeiro encara a protagonista como a horrível homicida do seu parceiro no corpo policial, ora se convence que ela está a encobrir o verdadeiro homicida. Passa os dias enfiado no carro, à porta dela, à espera que viole a sentença e a devolva à prisão, mas como é possível que tenha tanto tempo livre? Não há crimes em Nova Iorque que exijam a sua presença? Ou está de férias? Michael Paré, outrora um nome de fugaz relevo, é o fantasma.
Em conclusão, Refém do Espírito desbarata uma premissa interessante e não apresenta uma sombra de medo ou suspense, característica indispensável neste ramo. O desfecho é de tal modo improvável que se torna estúpido sequer considerá-lo. (spoiler:) A casa arde com um cadáver lá dentro e o polícia diz à protagonista que fuja, o que ela faz. É então veiculada a informação de que ela morreu no incêndio. Mas o cadáver é de um adolescente que vive com os pais (amante da protagonista) e, mesmo que nada sobre dos escombros do que um esqueleto, é bom de ver que o esqueleto de um homem não se confunde com o de uma mulher, e a altura do rapaz não confere com o dela. A família do rapaz não exigirá uma investigação ao desaparecimento? E porque há-de a protagonista aceitar viver como fugitiva (sem documentos e dada como morta), agora que fantasma se esfumou e poderia mudar-se para outro apartamento? Prisão domiciliária só obriga a não sair de casa, mas não impede que se mude de morada.
100 Feet 2008
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